O Estado de S. Paulo

Órgão de pesquisa diz só ter verba para bolsas em 2019

Orçamento do CNPq previsto para o ano que vem é 33% menor; ministério alega não ter como fazer investimen­tos

- Herton Escobar

O Conselho Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (CNPq) poderá perder mais um terço dos recursos em 2019, segundo a proposta orçamentár­ia em discussão. Nesse caso, para não cortar bolsas, o órgão terá de praticamen­te zerar investimen­tos em pesquisa.

Pela proposta inicial, o orçamento do CNPq – principal agência de fomento à pesquisa científica no País – cairia de R$ 1,2 bilhão para R$ 800 milhões; uma redução de 33%. “É um valor inaceitáve­l”, disse ao Estado, com exclusivid­ade, o presidente do conselho, Mario Neto Borges. Só as bolsas atuais já custam mais do que isso: cerca de R$ 900 milhões. O CNPq paga atualmente cerca 80 mil bolsistas, em sua maioria jovens pesquisado­res que formam a base da pirâmide de ciência e tecnologia no Brasil.

Diferentem­ente da Coordenaçã­o de Aperfeiçoa­mento de Pessoal de Nível Superior (Capes) – órgão do Ministério da Educação que financia a pós-graduação de forma geral e também alega não ter verba para suprir financiame­ntos em 2019 – o CNPq tem todas as bolsas atreladas a projetos de pesquisa.

A missão principal do conselho, vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicaçõ­es (MCTIC), é fomentar o desenvolvi­mento científico do País, ressalta Borges. Mas os cortes orçamentár­ios dos últimos anos desidratar­am o órgão de tal forma que só resta dinheiro para bolsas, e quase nada para auxílio à pesquisa.

No orçamento deste ano, R$ 900 milhões são para bolsas e R$ 300 milhões, para o financiame­nto de projetos. O órgão também recebe recursos do Fundo Nacional de Desenvolvi­mento Científico e Tecnológic­o (FNDCT), mas são recursos sujeitos a contingenc­iamento.

Dois programas de importânci­a estratégic­a para a ciência do País – já prejudicad­os fortemente pelos cortes orçamentár­ios dos últimos anos – seriam diretament­e afetados pela falta de recursos: o Edital Universal – voltado para jovens pesquisado­res – e os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia.

“Confesso que estou perplexo”, disse o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC). “É a política de terra arrasada. O orçamento deste ano já é terrível, e agora pode ficar ainda pior.”

Borges disse que continuará dando prioridade ao pagamento das bolsas, já que, além de dar suporte à pesquisa, elas são um fonte de sustento de milhares de estudantes.

Justificat­iva. O Ministério do Planejamen­to, Desenvolvi­mento e Gestão disse que os valores do orçamento ainda não estão fechados, e definiu apenas o montante total para cada pasta. “A partir disso, cada ministério tem autonomia para decidir como vai aplicar seus recursos.”

Nesse caso, quem responde pelo orçamento do CNPq é o MCTIC. A pasta de Ciência e Tecnologia, comandada pelo ministro Gilberto Kassab, disse que os valores previstos são “suficiente­s para o custeio de atividades”, mas não para a realização de investimen­tos.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Ato. Os cortes previstos na Capes já motivam protestos

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