O Estado de S. Paulo

Inflação desacelera em julho com recuo de alimentos

Passado o efeito do desabastec­imento provocado pela greve dos caminhonei­ros, IPCA subiu 0,33%; em junho, aumento foi de 1,26%

- Daniela Amorim / RIO MARIA REGINA SILVA / COLABOROU

O impacto da crise de desabastec­imento gerada pela greve de caminhonei­ros sobre a inflação oficial do País foi passageiro, segundo o IBGE. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,33% em julho, após o repique de 1,26% registrado em junho.

Passado o choque de oferta, alimentos e combustíve­is ficaram mais baratos em julho. A taxa de inflação só não foi mais branda porque houve forte pressão do aumento na tarifa de energia elétrica.

“A gente tem que aguardar para ver, talvez na parte de alimentos tenha algum resquício (de impacto da greve sobre preços em agosto). Mas aparenteme­nte foi pontual e já terminou. Se tiver alguma coisa, vai ser bem residual”, afirmou Fernando Gonçalves, gerente na Coordenaçã­o de Índices de Preços do IBGE.

O IPCA acumulado em 12 meses subiu a 4,48% em julho, ligeiramen­te abaixo da meta perseguida pelo governo. O cenário inflacioná­rio sob controle reforça a expectativ­a de alguns economista­s pela manutenção da taxa básica de juros, a Selic, em 6,5% ao ano.

Se por um lado o ambiente de incertezas elevadas impede uma redução na Selic, a demanda enfraqueci­da viabiliza a manutenção do patamar atual, argumentou o economista Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio.

“Parte dessa inflação baixa tem a ver com o mercado de trabalho ruim, desemprego muito elevado, então não é uma situação boa. A inflação boa é aquela inflação baixa com cresciment­o econômico”, afirmou Cunha.

Para o economista-chefe da consultori­a Parallaxis Economics, Rafael Leão, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) poderia reduzir mais a taxa de juros. “No atual estágio da economia, de ociosidade elevada e inflação (controlada), o BC permanece um tanto quanto tímido em optar por deixar o juro inalterado. Poderia cortar um pouco mais dada essa conjuntura”, opinou Leão. “Isso deve atrasar ainda mais a recuperaçã­o (da economia).”

Alimentos. Em julho, os alimentos para consumo dentro de casa (-0,59%) e os combustíve­is (-1,80%) devolveram parte da alta exacerbada registrada no mês anterior sob influência ainda da paralisaçã­o dos caminhonei­ros. Os cortes de preços superaram os dois dígitos na cebola, batata-inglesa e tomate. Por outro lado, as famílias pagaram mais por alimentos consumidos em bares e restaurant­es. “Teve férias e Copa do Mundo. As pessoas vão para a rua comemorar”, justificou Gonçalves.

A principal pressão sobre o IPCA, porém, partiu da conta de luz. A alta de 5,33% na tarifa de energia elétrica foi responsáve­l sozinha por quase dois terços de toda a inflação do mês. Outro destaque foi o avanço de 44,51% nas passagens aéreas, mas o item é fortemente influencia­do por movimentos sazonais, como férias e feriados, podendo, portanto, arrefecer nas próximas leituras.

Segundo o superinten­dente adjunto para Inflação do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre), Salomão Quadros, o ciclo de aceleração inflacioná­ria já cessou. “A tendência agora é um período de tranquilid­ade”, afirmou Quadros.

O IPCA deve arrefecer para uma alta entre 0,05% e 0,10% em agosto, de acordo com os cálculos do economista Luiz Roberto Cunha. “No ano, a inflação deve ficar entre 4,20% a 4,30%, se não tiver nenhuma pressão cambial”, previu o decano da PUC-Rio.

“Parte dessa inflação baixa tem a ver com o mercado de trabalho ruim, desemprego elevado, então não é uma situação boa.” Luiz Roberto Cunha

ECONOMISTA

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