O Estado de S. Paulo

Godot e Brook sacodem a Escócia

- JOÃO WADY CURY E-MAIL: JOAO.CURY@ESTADAO.COM BLOG:CULTURA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/ARCENICO

Um dos mais incríveis encontros teatrais da Europa, o Festival Internacio­nal de Edimburgo, na Escócia, entra em sua segunda semana e promete sacudir as ilhas britânicas. Não é pra menos. A montagem de Esperando Godot, de Samuel Beckett, tem sido considerad­a a melhor das últimas duas décadas, levada pela companhia irlandesa Druid. Sim, somos desgraçado­s e o mundo acaba cruelmente mal para Beckett, mas a diretora Garry Hynes acha que isso pode ser feito com humor sutil e cortante ao mesmo tempo. No elenco só fera: Garrett Lombard (Lucky), Aaron Monaghan (Estragon), Rory Nolan (Pozzo) e Marty Reas (Vladimir). Nada melhor que o desalento com humor. SIM, ELE VAI

Peter Brook é presença garantida até porque a sua companhia, o Théâtre des Bouffes du Nord, sediada em Paris, é residente convidada do festival e desembarca com três montagens. Brook divide dramaturgi­a e direção em The Prisoner, com Marie-Hélène Estienne. Fica em cartaz de 22 a 26/8. Mas há quem esteja com siricutico para assistir à nova montagem da diretora Katie Mitchell, que chega ao palco escocês com La Maladie de la Mort

– montagem pra lá de multimídia que lembra o teatrão dos anos 90. Ok, ok, foi o despertar de Katie, aceitemos. A inspiração é o romance homônimo de Marguerite Duras.

ME DÁ UM DINHEIRO AÍ Se por lá o dinheiro para a cultura existe e é bem gasto por aqui míngua a cada dia. O Sesc, nosso verdadeiro e legítimo Ministério da Cultura, é o grande provedor das artes cênicas. E seguimos ladeira abaixo e cada um se vira como pode. Depois do corte de investimen­to da Petrobrás, o Teatro Oficina, José Celso Martinez Corrêa à frente, decidiu seguir com o projeto de montar no muque Roda Viva, de Chico Buarque. A trupe lançará mão de financiame­nto coletivo para arrecadar R$ 1 milhão em poucos meses. Experiênci­a e habilidade não faltam: a temporada carioca de O Rei da Vela foi financiada coletivame­nte. Na ausência de um Estado eficaz na cultura, é o que se faz.

SANTOS ESTÁ COM TUDO O balneário paulista vai respirar teatro nos próximos 40 dias com dois eventos tradiciona­is. Começa dia 24 com a 60.ª edição do Festa – Festival Santista de Teatro, possivelme­nte o mais antigo em atividade contínua e que este ano tem como tema Mulheres Em Cena: da luta de Pagú aos dias de hoje. Serão 20 peças de 6 Estados e a abertura terá A Vida em Vermelho – Brecht & Piaf, com Letícia Sabatella e Fernando Alves Pinto. Depois vem o Mirada – Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas do Sesc SP, de 5 a 15/9, com mais de 40 espetáculo­s de 13 países. A Colômbia, homenagead­a desta edição, abre o evento com Labio de Liebre, da Companhia Teatro Petra. E pela primeira vez a Nicarágua estará no Mirada e de lá vem a peça La Ciudad Vacía, do Teatro Justo Rufino Garay – narra por meio de três gerações a história de Manágua, capital do país. Os hispânicos estão com tudo no festival: haverá ainda a espanhola Compañía De Teatro Markeliñe com Euria (Lluvia), sobre a morte. Com fofura, claro.

MAS SÃO PAULO...

... também tem seu espacinho. Se passar no Vale do Anhangabaú, perto do tradiciona­l prédio dos Correios (Praça Pedro Lessa), de 24/8 a 9/11, é possível se deparar com cabeças cortadas de medusas da montagem de Medusa Concreta. É a peça de rua da Cia. Les Commediens Tropicales e do Quarteto à Deriva para contar a história mitológica aos olhos de Ovídio. As sessões serão às sextas, sábados e terças, às 17h.

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MATTHEW THOMPSON/DRUID Cadê Godot? Trio do barulho
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MARIANA CHAMA
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