O Estado de S. Paulo

‘Chef do século 20’, foi recordista de estrelas no século 21

O chef francês Joël Robuchon morreu na segunda-feira, aos 73 anos, deixando um império de 26 restaurant­es e um enorme legado, que inclui a ‘descoberta’ de Ferran Adrià e um novo conceito de restaurant­es

- Patrícia Ferraz

“Meu pai sempre diz que Robuchon é o melhor cozinheiro do mundo.” A afirmação de Claude Troisgros, filho do célebre Pierre Troisgros, integrante da nouvelle cuisine, dá conta da importânci­a do chef francês Joël Robuchon, que morreu na segunda-feira, em Genebra, aos 73 anos. Robuchon era considerad­o por seus pares como o maior cozinheiro vivo da atualidade, embora não cozinhasse mais (triste coincidênc­ia, morreu no mesmo ano que o outro ícone da gastronomi­a francesa, Paul Bocuse).

A combinação de perfeccion­ismo, ousadia, técnica, obsessão pela qualidade, rigidez e enorme talento fez com que fosse chamado de o chef do século pelo guia francês Gault & Millau, em 1990.

O chef do século 20 morreu no século 21 como recordista de estrelas Michelin – chegou a somar 32 delas; atualmente, tem 28 estrelas nos 26 restaurant­es que mantém em nove países, império construído em sua segunda vida na cozinha.

Aos 50 anos, quando estava no auge, Joël Robuchon se aposentou. Uns anos depois voltou ao mercado e, visionário, antecipou a descontraç­ão da gastronomi­a quando abriu o L’Atelier, em 2003, em Paris. Pela primeira vez, um grande chef se instalou atrás de um balcão, cozinhando e conversand­o.

Foi Robuchon também quem “descobriu” Ferran Adrià. Em 1996, ele estava de férias na Catalunha, pertinho do El Bulli, onde Adrià já estava dando os primeiros passos da revolução que abalaria o mundo gastronômi­co. Os amigos tentaram levá-lo para ver a tal cozinha moderna de Adrià, ele relutou. Acabou cedendo, mas chegou ali quase arrastado. Ficou fascinado. Voltou no dia seguinte e no outro e saiu dizendo que Ferran Adrià era “o maior cozinheiro do mundo”. Foi o que bastou para atrair chefs e críticos de todos os cantos para o El Bulli.

Robuchon veio ao Brasil em 2003, a convite de Laurent Suaudeau, para presidir o júri do concurso Gourmet Show da Fispal, que iria escolher o representa­nte do Brasil no Bocuse d’Or, em Lyon. Desembarco­u com sua dólmã preta, falou manso, sorriu, incentivou os jovens cozinheiro­s – mas os olhos azuis penetrante­s deram pista clara sobre a lendária rigidez.

 ?? JIM WILSON/THE NEW YORK TIMES ??
JIM WILSON/THE NEW YORK TIMES
 ?? JOËL SAGET/AFP PHOTO ?? Estrelas. Os dois maiores ícones da cozinha francesa atual morreram em 2018: Paul Bocuse (à esq.) e Joël Robuchon
JOËL SAGET/AFP PHOTO Estrelas. Os dois maiores ícones da cozinha francesa atual morreram em 2018: Paul Bocuse (à esq.) e Joël Robuchon
 ?? TONY CENICOLA/THE NEW YORK TIMES ?? Visionário. Robuchon atrás do balcão do L’Atelier, aberto em 2003, que mudou a relação entre cozinheiro e cliente
TONY CENICOLA/THE NEW YORK TIMES Visionário. Robuchon atrás do balcão do L’Atelier, aberto em 2003, que mudou a relação entre cozinheiro e cliente

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil