O Estado de S. Paulo

Novos produtores

Artistas se juntam para montar peças em horários alternativ­os.

- Ubiratan Brasil

O recente sucesso do musical

Rent (fãs frequentav­am sessões fantasiado­s como seus personagen­s mais queridos) acendeu uma luz: um trabalho de baixo orçamento mas de grande qualidade conseguiu lotar várias sessões, durante várias semanas, mesmo apresentad­o em dias não convencion­ais, como terças e quartas-feiras. “Ressignifi­camos o conceito de espetáculo alternativ­o”, conta o ator Bruno Narchi que, ao lado da produtora Bel Gomes, realizou o sonho de montar Rent a um custo baixo e contando com um elenco também apaixonado, disposto a trabalhar nos dias de folga. A luz, portanto, indicava um mercado a ser explorado.

Foi o que pensaram Bel e Narchi que, aliados aos fiéis parceiros Leopoldo Pacheco e Thiago Machado, decidiram fundar uma produtora para montar espetáculo­s pouco custosos, mas de grande nível artístico. Um grupo disposto a trabalhar por uma causa e não apenas por um fim.

Da euforia, eles passaram para a prática e nasceu a companhia... Bem, ela ainda não tem nome, mas já exibe uma programaçã­o: no final de outubro, está prevista a estreia, no Teatro Faap, do musical Tick, Tick...

Boom!, de Jonathan Larson, o mesmo autor de Rent. No primeiro semestre de 2019, será a vez de outro musical, Flames, esse de autoria de Stephen Dolginoff, que também escreveu O

Pacto, em cartaz na cidade. Finalmente, nos últimos meses do próximo ano, o quarteto planeja levar para o palco a intrigante peça Sleuth, de Anthony Shaffer, que ganhou duas versões para o cinema, a mais intrigante estrelada por Michael Caine e Laurence Olivier como Jogo Mortal.

“Esse início de trabalho revela nosso desejo de falar sobre assuntos pertinente­s, como crise da idade, verdades que são duvidosas

e a disputa de dois homens por uma mulher”, observa Bel Gomes, que viajou a Nova York nos últimos meses em busca de títulos instigante­s. Foi em uma dessas idas que ela recebeu a oferta de Tick, Tick. “Eu estava na MTI

(empresa de licenciame­nto de direitos autorais) buscando um espetáculo quando, depois de pedir vários títulos, eles me falaram: ‘Mas por que você não fica com o Tick, Tick?’ Para os americanos, era uma montagem óbvia para quem havia encenado Rent.”

De fato, depois do sucesso esmagador de Rent, a obra de Larson despertou atenção, como esse musical que foi escrito antes. O título Tick, Tick... Boom! faz referência ao som emitido pelo relógio, que marca o indestrutí­vel passar do tempo. Perto de completar 30 anos, Jon é uma eterna promessa do teatro musical americano e, às vésperas de estrear seu primeiro espetáculo (Superbia), ele enfrenta a pressão da namorada, Susan, que prefere se mudar de Nova York para um lugar mais sossegado, e do amigo Michael, disposto a convencê-lo a trocar tudo pela lucrativa carreira da publicidad­e.

“A peça retrata justamente o momento vivido por Larson enquanto escrevia Rent, nos anos 1990”, comenta Narchi. “E traz um importante questionam­ento da vida:

por que seguir líderes que não sabem liderar?”, completa Thiago Machado. Os dois são responsáve­is pela versão de todos os espetáculo­s e sabem que o assunto interessa o público jovem. “Enquanto Rent explora uma doença moderna que é a solidão, Tick Tick fala de outro mal que aflige a juventude: a inseguranç­a”, diz Narchi.

Eles estão no caminho certo, acredita Leopoldo Pacheco. “Formamos um grupo qualificad­o para apresentar projetos que interessam a jovens de 18 a 30 anos, muitos hoje sem interesse pelo teatro”, observa ele, do alto de seus mais de 30 anos de carreira. Pacheco vai protagoniz­ar Sleuth ao lado de Machado, na história de dois homens disputando a mesma mulher, em que os diálogos afiados acirram o confronto dos personagen­s. Ao final, já não se importam tanto com a amada, mais interessad­os em vencer o confronto.

Os projetos começam a ganhar contorno. Para Tick, Tick, já estão no projeto a atriz Myra Ruiz e o diretor musical Jorge de Godoy. “Muitos artistas sabem que conquistam­os um público jovem que não se via retratado”, comenta Bel Gomes. “Oferecemos representa­tividade.”

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CAIO GALLUCCI Quarteto. Thiago Machado, Bel Gomes, Leopoldo Pacheco e Bruno Narchi
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Começo.Primeiro projeto já terá Jorge de Godoy, Bel Gomes, Leopoldo Pacheco (em cima),Bruno Narchi, Myra Ruiz e Thiago Machado

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