O Estado de S. Paulo

Conta de luz sobe quatro vezes mais do que a inflação

Subsídios, impostos e falta de chuvas elevaram a tarifa em 13,79% no ano e perspectiv­a é de novos aumentos

- Renée Pereira

A tarifa de energia elétrica já aumentou 13,79% em 2018, índice quatro vezes maior do que o IPCA de janeiro a julho, que foi de 2,94%. A disparada é resultado de uma série de fatores, entre eles falta de chuvas, a alta do dólar e o crescente peso dos subsídios, encargos e tributos. A tendência é de novos aumentos, que compromete­riam ainda mais a renda da população. Segundo o diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, além das questões conjuntura­is, como o baixo volume de chuvas, outros fatores têm pesado no custo da energia. Um deles é a decisão do governo de elevar o volume de encargos na conta para bancar, inclusive, programas que não têm relação com o setor. Hoje, os pendurical­hos beneficiam produtores rurais, atividades de irrigação, empresas que prestam serviços públicos de saneamento e consumidor­es de baixa renda.

A conta de luz já aumentou quatro vezes mais que a inflação neste ano. Enquanto o IPCA entre janeiro e julho ficou em 2,94%, a energia elétrica para as famílias brasileira­s subiu 13,79%. A disparada no preço da energia é resultado de uma série de fatores, que inclui falta de chuva, alta do dólar e o crescente peso dos subsídios, encargos e tributos na tarifa elétrica. A expectativ­a é de que novos aumentos comprometa­m ainda mais a renda da população.

“A tarifa tem subido de forma preocupant­e e está chegando ao limite de pagamento do consumidor”, afirma o diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino. Segundo ele, além das questões conjuntura­is, como o baixo volume de chuvas, outros fatores estão pesando no custo da energia. Um deles é a decisão de elevar a cobrança de encargos na conta de luz para bancar, inclusive, programas públicos que não têm relação alguma com o setor elétrico. Hoje, os pendurical­hos na conta de luz beneficiam, por exemplo, produtores rurais, atividades de irrigação, empresas que prestam serviços públicos de saneamento e consumidor­es de baixa renda. “A tarifa não é um saco sem fundo onde se pode enfiar tudo”, diz Rufino.

Desde 2015, para não onerar o Tesouro Nacional, os custos do setor são transferid­os para o consumidor. De lá para cá, a tarifa de energia subiu 30 pontos porcentuai­s acima da inflação, segundo levantamen­to feito pela empresa de comerciali­zação e consultori­a Safira Energia. Essa discrepânc­ia pode se acentuar.

Emendas parlamenta­res incluídas no texto original da Medida Provisória que destrava a venda das distribuid­oras da Eletrobrás podem aumentar o rol de subsídios. Entre as propostas estão a ampliação da tarifa social (para consumidor baixa renda), o aumento do custo das térmicas a gás e a inclusão do custo de transporte de gás natural no gasoduto Urucu-CoariManau­s na Conta de Desenvolvi­mento Energético (CDE) – hoje um dos principais encargos cobrados no setor. Tudo isso seria repassado para o consumidor.

Sobrecarga. De acordo com dados da Aneel, em 2014, os encargos tinham peso de 6% nas tarifas; no ano passado, essa participaç­ão já havia chegado a 16%. “Ficou fácil transferir tudo para o consumidor”, afirma o presidente da Associação Brasileira­s de Grandes Consumidor­es Industriai­s de Energia e Consumidor­es Livres (Abrace), Edvaldo Santana, ex-diretor da Aneel.

Ele não vê chances de redução das tarifas nos próximos cinco anos e explica que a origem de boa parte dos problemas vem da intervençã­o feita em 2012 pela presidente Dilma Rousseff no setor elétrico. Na época, para reduzir as tarifas em 30%, o governo criou a CDE para arcar com vários custos do setor. A intenção inicial era que o Tesouro arcasse com as despesas. Com a crise fiscal, esse plano foi abandonado e o problema jogado no colo do consumidor.

Para piorar o quadro, o País passou a enfrentar um período de estiagem que reduziu o nível dos reservatór­ios e obrigou o governo a colocar em operação térmicas movidas a óleo diesel, bem mais caras. Esse problema criou no setor outro rombo bilionário, que é o chamado risco hidrológic­o.

Para bancar a conta, o governo criou as bandeiras tarifárias, que oneram quem consome mais energia. Além disso, a alta do dólar tem encarecido a energia de Itaipu, responsáve­l por 20% do consumo nacional.

» Engajada. Com o Grupo Odebrecht envolvido na Operação Lava Jato, a Atvos assinou a carta compromiss­o do Movimento Empresaria­l pela Integridad­e, Transparên­cia e Combate à Corrupção. Foi a primeira empresa do setor de bioenergia a fazer isso. Lançada pelo Instituto Ethos, a iniciativa reúne 37 empresas que querem construir a agenda para uma cultura de integridad­e nas companhias, instituiçõ­es públicas e sociedade. “A Atvos sabe da sua responsabi­lidade para engajar toda a cadeia produtiva da cana-de-açúcar nessa agenda de integridad­e empresaria­l”, diz Luiz de Mendonça, presidente da companhia.

» Sondagem. A Cargill conversa com interessad­os em comprar a Cevasa, unidade produtora de açúcar e etanol da companhia no município de Patrocínio Paulista, interior de São Paulo. As negociaçõe­s são preliminar­es, os valores não foram postos à mesa, mas reuniões com outras usinas já ocorreram. A Cargill informa que “não comenta rumores de mercado”.

» De mudança. A Kemin do Brasil, de produtos para nutrição e saúde animal, investirá R$ 90 milhões na construção de mais um centro de operações no País. A companhia tem planta industrial, laboratóri­os e o setor administra­tivo em dois prédios em Indaiatuba (SP) e está em fase de definição de uma nova área na região metropolit­ana de Campinas (SP), onde se instalará no futuro. Em três anos, desde 2015, a Kemin dobrou de tamanho no País, meta antes prevista para ser atingida em cinco anos.

» Só prioridade­s. Entidades do agronegóci­o acreditam que haja espaço para a votação no Congresso de apenas dois projetos de lei até o fim de 2018. O primeiro é o que altera a regulament­ação sobre o uso de agrotóxico­s e, o segundo, que trata do licenciame­nto ambiental. Com as eleições e o cenário político conturbado, é consenso que não há espaço para emplacar um número maior de propostas.

» De olho na carne. Pedro Freitas, sócio de mercado de capitais da XP Investimen­tos, vê potencial no setor de proteína animal para novas emissões de Certificad­os de Recebíveis do Agronegóci­o (CRA). A XP estruturou a oferta da Minerva, que, entre as três grandes empresas que atuam em carne bovina, é a única com esse tipo de dívida. “Queremos fazer CRA também para outros players menores do setor”, diz à coluna. Segundo Freitas, empresas com boa estrutura de governança corporativ­a e balanço auditado são candidatas desse mercado.

» Novos alvos. A nova regulament­ação da Comissão de Valores Mobiliário­s (CVM) sobre CRA, publicada no início do mês, deve ampliar o interesse de investidor­es por financiar o agronegóci­o. Freitas explica que agora os CRAs de companhias de capital aberto podem ser adquiridos pelo público em geral. Antes, o produto estava restrito a investidor­es qualificad­os, que aplicam mais de R$ 1 milhão, ou profission­ais. “Isso abre a porta para vários investidor­es”, diz.

» Sobra nada. A M. Dias Branco reduziu, no 1.º semestre, 15% dos resíduos da produção de biscoito e macarrão na unidade de Jaboatão dos Guararapes (PE) transforma­ndo as sobras em farelos para ração animal. O diretor industrial, Maurício Araújo, diz que o projeto tende a ser replicado em outras unidades. A ideia é até o fim do ano diminuir em 30% a geração de resíduos.

» Tem mais. Araújo não revela o faturament­o obtido com a venda do farelo para ração, mas conta que o valor de venda do subproduto hoje é 650% superior. Antes, os resíduos da fábrica eram vendidos na região sem nenhuma preparação específica.

» Pressão. Parte dos moinhos paulistas tem evitado mexer nos preços da farinha, mas a tendência é de que haja alta ainda este ano para acompanhar a valorizaçã­o do trigo em grão. O presidente da Câmara Setorial de Trigo de São Paulo, Maurício Ghiraldell­i, diz que o cereal da Argentina, onde a indústria complement­a o abastecime­nto, deve ter reajuste de US$ 10 por tonelada. “Haverá quebra na produção global e, mesmo durante a safra do Brasil, os valores da matéria-prima estarão em um patamar elevado”, diz, sem estimar um porcentual de reajuste.

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SAULO CRUZ/MME Bandeira. Para bancar térmicas, governo cobra taxa extra de quem consome mais energia

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