O Estado de S. Paulo

Candidatur­as de militares crescem 92% em 4 anos

Forças Armadas. ‘Estado’ identifico­u 25 postulante­s a cargos no Executivo, alta de 92% em relação a 2014; rejeição a políticos tradiciona­is e violência explicam trajetória

- Felipe Frazão Tânia Monteiro / BRASÍLIA / COLABORARA­M PAULO BERALDO, CAMILA TURTELLI, MARIANA HAUBERT, FABIO LEITE E JULIA LINDNER

Os militares ampliaram em 92% a participaç­ão na disputa ao Executivo neste ano, em relação às eleições de 2014. O Estado identifico­u pelo menos 25 candidatos à Presidênci­a, aos governos estaduais ou a cargos de vice, que estão na ativa ou na reserva. Em comparação a 2010, a alta é de 257%. O movimento pode estar relacionad­o à descrença em políticos tradiciona­is e à preocupaçã­o com segurança.

Incentivad­os pela reprovação a políticos de carreira, militares ampliaram a participaç­ão na disputa por cargos do Poder Executivo neste ano. O número de candidatos originário­s das Forças Armadas, da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros quase dobrou em relação ao pleito de 2014. O Estado identifico­u pelo menos 25 militares, da ativa ou da reserva, que vão concorrer a presidente, vice-presidente, governador ou vice-governador, ante 13 nomes na eleição passada, um aumento de 92%. Se comparado com 2010, quando sete militares disputaram esses cargos majoritári­os, a alta chega a 257%.

Quando considerad­o todo o universo de candidatos ao Executivo, os militares representa­m 7% dos nomes já anunciados pelos partidos. Na eleição passada, a proporção era de 3% do total de profissões registrada­s ao fim do pleito, conforme dados da Justiça Eleitoral. Os números podem sofrer variações porque o prazo para os candidatos requisitar­em o registro vai até a próxima quinta-feira. O perfil dos candidatos vai de apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) até militar filiado a partidos de esquerda (mais informaçõe­s na pág. A6).

Com mais de 64 mil assassinat­os registrado­s no ano passado e confrontos frequentes entre facções criminosas internacio­nalizadas, a violência tornou-se uma das pautas mais sensíveis do debate eleitoral.

“Os militares estão sendo alçados a se candidatar como consequênc­ia do momento nacional, um País enfrentand­o tantas mazelas e dificuldad­es. Pesquisas de opinião junto à sociedade brasileira mostram que, entre as demais instituiçõ­es, as Forças Armadas têm maior índice de confiabili­dade. E a sociedade está em busca disso”, afirma o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que promoveu rodadas de conversas com os principais concorrent­es à Presidênci­a da República. Essa visão é endossada pelo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucio­nal (GSI) da Presidênci­a, general Sérgio Etchegoyen.

Para o cientista político Hilton Cesario Fernandes, da FESPSP, com a crise na área da segurança pública, os casos de corrupção e o descrédito nos nomes tradiciona­is da política “era de se esperar que militares fossem o ‘perfil da vez’ para muitos eleitores”. “E esta é uma tendência que não tem dado sinais de mudança para os próximos anos”, afirmou ele.

Divisão. Dos 25 nomes, seis são do Exército, a maior das três Forças e a mais influente politicame­nte. Não há candidatos da Marinha ou da Aeronáutic­a. Os demais são policiais (17) e bombeiros militares (2). A reportagem não incluiu na contagem candidatos a cargos no Legislativ­o nem carreiras vinculadas à segurança pública, mas de caráter civil, como guardas municipais, delegados e policiais civis ou federais que também vão disputar cargos majoritári­os.

Três militares concorrem ao Palácio do Planalto, como candidato a presidente ou vice: Bolsonaro,

que é capitão da reserva do Exército, e seu candidato a vice, o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), além do deputado Cabo Daciolo (Patriota), ex-bombeiro.

Os outros 22 nomes disputam cargos de governador ou vice. No Rio, por exemplo, o PRTB lançou uma chapa pura

formada por dois policiais militares. Em São Paulo, três mulheres da Polícia Militar foram convidadas para compor chapas como candidatas a vice-governador­a do Estado. (mais informaçõe­s nesta página)

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil