O Estado de S. Paulo

Novo plano de ciclovias

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Com o novo plano de ciclovias do prefeito Bruno Covas, que será discutido em audiências públicas, mais um passo está sendo dado – o primeiro foi a sanção pelo seu antecessor, João Doria, da Lei 16.738/17, que criou as condições para colocar essa questão nos termos corretos – para evitar a repetição dos graves erros cometidos pelo exprefeito Fernando Haddad. Ele utilizou as ciclovias não para promover efetivamen­te o transporte por bicicleta, mas para delas tirar proveito político, com muita pirotecnia e pouca substância.

Como mostrou reportagem do Estado, o plano prevê a expansão da rede – atualmente de 498,3 km – em mais 1,4 mil km, entre ciclovias (estrutura elevada em relação ao viário), ciclofaixa­s (via pintada de vermelho no asfalto) e ciclorrota­s (estruturas com sinalizaçã­o pintada no asfalto e placas indicando rotas para ciclistas que neste caso dividem o espaço com carros). Um ponto central da proposta é a ligação da rede de ciclovias com terminais de ônibus e com estações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolit­anos (CPTM).

Até 2028, as Marginais do Tietê e do Pinheiros e as Avenidas Bandeirant­es, Tancredo Neves, Juntas Provisória­s e Salim Farah Maluf formarão um grande anel cicloviári­o. Um outro anel, menor, ligará a Avenida Senador Queiroz ao Parque Dom Pedro, passando pela Avenida Ipiranga, a Avenida São Luís, a Rua Maria Paula, a Praça João Mendes e a Rua Anita Garibaldi. As grandes avenidas que cortam o anel das marginais também terão ciclovias ligando a periferia ao centro.

A Prefeitura garante ter tomado cuidados essenciais, seguindo as diretrizes da Lei 16.738/17, negligenci­ados por Haddad. Um deles foi contratar assessoria técnica – da Bloomberg Philanthro­pies – para a elaboração do plano. E Covas diz ter se reunido em julho com a ex-secretária de Transporte­s de Nova York para se informar sobre a bem-sucedida experiênci­a dessa cidade com a implantaçã­o de ciclovias. É preciso tornar públicos os estudos e sugestões feitos pelos técnicos, nos quais se baseou o plano, para deixar claro que a proposta não tem a improvisaç­ão que caracteriz­ou as iniciativa­s de Haddad.

Outra medida importante é a discussão do plano em audiências públicas a serem realizadas nas 32 Prefeitura­s Regionais. A ativa participaç­ão nos debates de todos os setores da população que têm algum tipo de ligação ou interesse no problema é indispensá­vel para que a ambiciosa extensão da rede de ciclovias correspond­a às reais necessidad­es de diversific­ação do sistema de transporte da cidade. Esse foi um dos pilares do êxito de Nova York.

Temas para discussões destinadas a aperfeiçoa­r o plano não faltarão. Logo após a divulgação de suas linhas gerais, por exemplo, um respeitado especialis­ta em trânsito, Flamínio Fichmann, declarou ter dúvidas sobre a eficiência da utilização do conceito de anéis para um plano cicloviári­o, porque ele foi pensado do ponto de vista do carro. Dois outros pontos merecem igual ou ainda maior destaque. Um é esclarecer o peso de estudos de demanda por ciclovias – se é que eles foram de fato feitos, como estabelece a lei – na formulação do plano. O argumento de alguns de que esse peso não é tão grande quanto se imagina – porque a própria ciclovia induziria a demanda por ela – já se revelou improceden­te, quando utilizado por Haddad. Prova disso é que boa parte das ciclovias implantada­s por seu governo não criou demanda nenhuma. Elas continuam entregues às moscas, como qualquer um pode constatar.

Outro, intimament­e ligado ao anterior, é se foi dada no plano a atenção que os bairros da periferia merecem. Eles devem ser prioritári­os, porque ali é notoriamen­te mais intenso o uso da bicicleta como meio de transporte não só para o trabalho, como para a escola e o lazer. Seria inaceitáve­l incidir, nesse caso, no mesmo erro primário cometido por Haddad, que deu preferênci­a aos bairros de classe média. Prejudicou as populações carentes da periferia – logo ele, um petista – para, por pura demagogia, fazer brilhareco no centro.

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