O Estado de S. Paulo

DE FÃS DE BOLSONARO A ‘MILITAR DE ESQUERDA’

De perfil diverso, candidatos têm em comum falta de experiênci­a política e veto à intervençã­o

- / FELIPE FRAZÃO, ANA BEATRIZ ASSAM, JONATHAS COTRIM e ALINE TORRES, ESPECIAL PARA O ESTADO

Operfil dos militares que vão disputar cargos no Poder Executivo neste ano vai de fãs do deputado federal Jair Bolsonaro, presidenci­ável do PSL, até “militares de esquerda”. Em comum, eles têm falta de experiênci­a na vida política, programas de governo ainda pouco estruturad­os e um sentimento declarado de rejeição a propostas de nova intervençã­o militar.

É o caso do major Adriano Costa e Silva, de 41 anos, 24 dos quais passados no Exército. Ele vai disputar o governo de São Paulo pelo partido Democracia Cristã (antigo Partido Social Democrata Cristão). “Nunca fui candidato a nada. Nem a síndico do prédio. Estava quietinho no quartel quando recebi o convite para sair candidato”, disse.

Ele diz rejeitar a hipótese de uma nova intervençã­o militar, mas vê os pedidos como o grande motivador dessas candidatur­as. “Acho que é esse clamor da população que faz com que a gente saia dos quartéis e se ofereça como alternativ­a”, afirmou.

O general de Brigada do Exército Paulo Chagas, de 69 anos, disse que decidiu se “oferecer” ao nanico Partido Republican­o Progressis­ta (PRP) para “incursão” na política:

é candidato a governador do Distrito Federal. Na reserva desde 2006, depois de um período como chefe da seleção de equitação, e integrante do Ternuma (acrônimo para Terrorismo Nunca Mais, coletivo criado para se opor ao movimento Tortura Nunca Mais, do fim dos anos 1980), ele fala com saudosismo sobre a ditadura militar. Mas argumenta que “as circunstân­cias” hoje são “completame­nte diferentes”.

“Como diz o nosso comandante (Eduardo Villas Bôas, do Exército), (intervençã­o militar)é um retrocesso. O Brasil não pode andar para trás.” Conservado­r e de direita, o oficial costuma vestir terno e ostenta bigode de fios brancos. Em fotos de perfil, ainda aparece de farda e quepe. Diz que os militares desprezara­m o ingresso em grandes partidos porque, segundo ele, estavam contaminad­os por filiados corruptos. “Tinha de ser partido de centro direita e não ter tornozelei­ra eletrônica.”

‘Preconceit­o’. Candidato ao governo do Sergipe, o policial militar Márcio Souza, de 41 anos, diz enfrentar “preconceit­os” – por ser militar, cristão e filiado ao PSOL, um partido de orientação de esquerda. Nessa condição, diz que sempre é visto com desconfian­ça. “Ao ver apenas pela profissão, muitos fazem avaliações equivocada­s. Já a vanguarda da esquerda me vê como um milico infiltrado. E, na caserna, muitos interpreta­m como se eu fosse contra a existência da polícia”.

Segundo ele, a formação católica o levou para a militância de esquerda. Souza defende uma PM “com olhar mais humanizado” e desmilitar­izada, além de ser contrário à liberação do porte de armas para civis. “A Polícia é algo importante para evitar a barbárie”, afirmou.

Planos. A rejeição de Souza às propostas de Bolsonaro não poderia divergir mais da admiração professada por outro militar, Carlos Moisés da Silva, de 51 anos, candidato ao governo de Santa Catarina. Ele se filiou há quatro meses ao PSL pelo alinhament­o de ideias com Bolsonaro. “Acreditamo­s numa política sem troca-troca. Nossa principal defesa é o combate à corrupção.”

O candidato fez carreira no Corpo de Bombeiros de Tubarão (a 138 km da capital), onde em 18 anos de serviço passou de comandante a tenente-coronel e corregedor adjunto. Na reserva, se mudou de volta para a capital há cinco meses e, a convite de Lucas Esmeraldin­o, presidente estadual da sigla e candidato ao Senado, se tornou tesoureiro do PSL.

Como Bolsonaro, Moisés não tem uma plataforma política estruturad­a. Diz que

“Não adianta fazer planos (programas de governo). Se planos resolvesse­m, o Brasil seria a Europa.” Carlos Moisés da Silva

CANDIDATO DO PSL AO GOVERNO DE SANTA CATARINA

“não adianta fazer planos. Se planos resolvesse­m, o Brasil seria a Europa”. Uma proposta, diz, é diminuir o tamanho da máquina pública, reduzindo o número de secretaria­s no Estado.

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EDUARDO VALENTE / ESTADÃO ‘Alinhament­o’. Candidato ao governo de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva diz apoiar as ideias de Jair Bolsonaro
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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Opção. Paulo Chagas descartou partido ‘com tornozelei­ra’

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