O Estado de S. Paulo

Trump é incapaz de tratar o nacionalis­mo branco como um mal

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No primeiro aniversári­o da violência em Charlottes­ville, Virgínia, com a morte de Heather Heyer, uma manifestan­te antinazist­a atropelada por um nacionalis­ta branco, o presidente Donald Trump nos lembrou de que é incapaz de tratar o nacionalis­mo branco como um mal, talvez para não melindrar sua rancorosa base branca.

Trump provocou uma reação furiosa um ano atrás quando deixou todo mundo de queixo caído ao entrar no terreno da equivalênc­ia moral e dizer que “existe gente boa dos dois lados”. Acrescento­u que “os dois lados têm culpa”. No sábado, ele deu outra piscadela para seu público branco ao afirmar no Twitter que “os distúrbios de um ano atrás resultaram numa morte estúpida e em divisão. Precisamos nos unir como nação. Condeno todo tipo de racismo e atos de violência. Paz a todos os americanos”.

Vejamos o que está errado nisso. Os “distúrbios” – um termo meio indefinido – não “resultaram” em “morte e divisão” – outros dois termos meio indefinido­s. Um nacionalis­ta branco atropelou e matou uma manifestan­te antinazist­a. Ponto. Mas Trump não poderia dizer essas palavras porque com elas confirmari­a que falhou um ano atrás – e, pior, irritaria sua base branca.

“Precisamos nos unir como nação” é demais, vindo do presidente que fomentou mais o ódio racista e anti-imigrante que qualquer outro presidente americano da era moderna. Desde o começo de sua campanha presidenci­al, ele dividiu os americanos (nativos ou não). Trump se sente compelido a condenar “todo tipo de racismo” para garantir que a “boa gente”, entre a qual neonazista­s, não se sinta excluída. Ele não consegue dizer simplesmen­te “condeno o racismo e atos de violência”. Finalmente, seus votos de “paz” são difíceis de engolir, dado seu hábito de incitar multidões a se engajar em violência. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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