O Estado de S. Paulo

Sob pressão, Cristina encara a Justiça

Empreiteir­o diz a promotor que os Kirchner recebiam até 20% do valor de todas as obras públicas; ex-presidente é citada em mais depoimento­s

- BUENOS AIRES

A ex-presidente argentina Cristina Kirchner vai estar hoje de manhã novamente frente a frente com o juiz que desde 2015 tenta provar o envolvimen­to do kirchneris­mo em casos de corrupção. O juiz federal Claudio Bonadio foi o primeiro a convocar Cristina para depor, em 2016, quatro meses depois de ela deixar o cargo. Agora, ela é suspeita de ser a destinatár­ia final de dinheiro provenient­e de subornos de empresário­s.

É a quarta vez que Cristina vai aos tribunais para depoimento­s em causas diferentes. As novas acusações contra a expresiden­te estão no processo dos chamados “diários da corrupção”, que vieram à tona graças a anotações e relatos feitos em oito cadernos por Oscar Centeno, o motorista de Roberto Baratta – braço direito do exministro de Planejamen­to Julio de Vido. Até agora foram mais de 20 depoimento­s no caso.

Cristina foi citada em vários depoimento­s, entre eles um considerad­o bombástico pela imprensa argentina, o de Carlos Wagner, ex-presidente da Câmara de Construção da Argentina entre 2004 e 2012. Wagner é dono da Esuco, uma das principais construtor­as do país e a campeã em execuções de obras públicas durante o kirchneris­mo.

Em depoimento de mais de quatro horas dado ao promotor Carlos Stornelli, na sexta-feira, Wagner disse que os Kirchner recebiam de 10% a 20% de propina sobre todas as obras feitas via licitação. “Esse dinheiro seria usado para despesas políticas”, disse Wagner no depoimento, revelado pelo jornal La Nación.

“As empresas se reuniam nos locais estabeleci­dos e determinav­am o vencedor da licitação, com base em seu interesse no trabalho. Uma vez premiado, o compromiss­o era pagar pelas despesas políticas e pelo avanço que foi estabeleci­do nas especifica­ções, em geral entre 10% e 20% do total das obras.”

Segundo estimativa­s do Clarín, se Wagner estiver dizendo a verdade, os Kirchner receberam US$ 2,8 milhões por dia em subornos. O valor total de obras públicas na “era K”, entre os governos de Néstor Kirchner (2003-2007) e Cristina Kirchner (2007-2015), somaram cerca de US$ 107 bilhões. A média de subornos, portanto, atingiria a cifra de US$ 16 bilhões.

Ontem, Cristina confirmou que vai se apresentar aos tribunais, como fez “em cada requerimen­to judicial”, para prestar depoimento. É possível que a atual senadora apenas apresente

uma declaração escrita ao juiz, como fez em outras ocasiões em que foi chamada.

A ex-presidente publicou ontem uma mensagem no Twitter na qual pedia para que os militantes kirchneris­tas não se mobilizass­em para acompanhá-la quando se apresentar ao juiz Claudio Bonadio, como fizeram em ocasiões anteriores. “Coloquemos todo o nosso esforço e energia para ajudar aqueles que estão passando muito, mas muito mal, nesta verdadeira catástrofe econômica e social que é o governo de Mauricio Macri”, afirmou Cristina.

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MARTIN ACOSTA/REUTERS-9/8/2018 Audiência. Ex-presidente depõe hoje sob suspeita de ser destino de dinheiro de suborno

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