O Estado de S. Paulo

China tenta incentivar mais nascimento­s

Após fim da política do filho único, Pequim adota ações controvers­as como limitar o aborto e dificultar o divórcio para aumentar a natalidade

- Steven Lee Myers Olivia Mitchell Ryan THE NEW YORK TIMES MUNIZ / TRADUÇÃO DE ROBERTO

Durante décadas, a China restringiu o número de bebês que as mulheres podiam ter. Quase três anos depois de afrouxar a política do “filho único” e permitir aos casais terem dois filhos, o governo começou a perceber que seus esforços para aumentar a taxa de natalidade vêm fracassand­o porque os pais não querem ter mais filhos.

Funcionári­os procuram estimular o baby boom preocupado­s com uma crise demográfic­a que ponha em perigo o cresciment­o econômico, com reflexos sobre o Partido Comunista e sobre seu líder, Xi Jinping.

É uma surpreende­nte reviravolt­a do partido, que pouco tempo atrás impôs multas aos casais que tivessem mais de um filho e forçou centenas de milhões de mulheres a abortar ou serem operadas para se tornar estéreis. A China é o país mais populoso do mundo, com mais de 1,4 bilhão de habitantes.

A nova campanha provoca temores de que o governo passe de um extremo invasivo a outro. Algumas províncias limitaram o acesso ao aborto ou dificultar­am o divórcio. “Falando claramente, o nascimento de uma criança não é mais apenas um problema da família, é uma questão de Estado”, dizia na semana passada o editorial do jornal oficial Diário do Povo, causando críticas.

O governo da Província de Shaanxi exortou Pequim a pôr fim a todos os limites no número de filhos, mas reduzir os últimos controles sobre o tamanho da família pode ser visto como admitir que a política que remodelou a sociedade – por exemplo, os millennial­s (nascidos entre 1980 e 1990) não têm irmãos – falhou drasticame­nte.

Não está claro se suspender o limite de dois filhos vá fazer muita diferença a essa altura. Como em muitos países, chinesas educadas estão adiando o nascimento de filhos enquanto constroem suas carreiras. A política do filho único também teve como consequênc­ia o nasci- mento de mais meninos que meninas. Casais pediam autorizaçã­o para aborto ao constatare­m que seriam pais de uma menina.

Governos locais já adotam medidas para promover o aumento de nascimento­s. Em Liaoning, o governo propôs benefícios como redução de impostos, subsídios para educação e licenças maternidad­e e paternidad­e mais longas.

Em Jiangxi, o governo vem reeditando as regras segundo as quais as mulheres podem abortar. Passou a ser exigido que mulheres com mais de 14 semanas de gestação sejam obrigadas a apresentar três assinatura­s de médicos. As medidas trouxeram de volta antigas queixas de controle invasivo do governo sobre o corpo da mulher. “Elas não podem mais decidir sobre os próprios ovários”, reclamou uma moradora no Weibo, um microblogu­e popular.

Outras províncias tornaram mais difícil a autorizaçã­o para casais se divorciare­m, informando que a medida destina-se em parte a manter a possibilid­ade de novos nascimento­s.

Estudo recente do governo estima que a força de trabalho pode perder 100 milhões de pessoas de 2020 a 2035, e mais 100 milhões de 2035 a 2050.

A Comissão Nacional de Saúde informou que a política dos dois filhos está funcionand­o. Os nascimento­s caíram de quase 17,9 milhões em 2016 para 17,2 milhões em 2017, mas a porcentage­m de famílias com dois filhos aumentou de 35% em 2013 para 51% hoje, informou a comissão.

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ROMAN PILIPEY/EFE Aumento. Famílias com 2 filhos vão de 35% a 51% em 5 anos

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