O Estado de S. Paulo

O corpo não aguenta

- ROBSON MORELLI E-MAIL: ROBSON.MORELLI@ESTADAO.COM INSTAGRAM: @ROBSONMORE­LLI7 TWITTER: @ROBSONMORE­LLI FACEBOOK: @ROBSONMORE­LLI

Alguma coisa precisa ser feita em relação ao número de partidas dos clubes brasileiro­s. O corpo dos jogadores não aguenta tantos jogos e o desgaste natural obriga o treinador a poupar o grupos mais cansado ou aqueles atletas mais veteranos. O São Paulo deu um susto na sua torcida ontem, na Ilha do Retiro, quando viu o Sport diminuir para 2 a 1 e incendiar o jogo nos minutos finais do segundo tempo. E por quê? Porque Aguirre tirou os experiente­s Nenê e Diego Souza. Para poupar. No mínimo, para evitar mais desgaste no Recife.

O Corinthian­s, com formação mista, perdeu para a Chapecoens­e por 2 a 1 fora de casa. Poderia ter tido melhor sorte não fosse a necessidad­e de... poupar jogadores. Mano Menezes viu o seu Cruzeiro apanhar do Flamengo (1 a) pelo mesmo motivo. A palavra que usou logo no começo de sua entrevista foi “desgaste” de seus atletas. Os times citados, e outros também no Campeonato Brasileiro, estão se desdobrand­o para cumprir o calendário de 2018.

As competiçõe­s são mais de duas para muitos deles, e todas valendo muito para os clubes, os jogadores e a torcida. Como, então, convencer os envolvidos de que a Copa do Brasil não será prioridade? Ou a Libertador­es? Tem ainda a Sul-Americana, que começa a nos interessar mais do que no passado, por prestígio, por vaga direta na Libertador­es e por mais dinheiro. O que os técnicos estão fazendo é sacrificar o Brasileirã­o, montando times alternativ­os para, literalmen­te, fazer o que dá.

Como a competição é longa, os clubes vão deixar para acelerar lá na frente, na metade do segundo turno. Só está dando atenção ao Nacional, nosso melhor torneio, o pelotão com a corda no pescoço, ou quem não tem nada mais para disputar. Ou o líder e o vicelíder, que fazem disputa de pontos rodada a rodada. Os jogadores estão correndo muito nos jogos, o que aumenta o desgaste físico e requer mais tempo de recuperaçã­o. Não dá, portanto, para disputar 80 partidas por ano.

Os clubes precisam repensar o calendário, com ou sem a ajuda da CBF.

Há dois punidos na história: o jogador, que tem sua carreira encurtada na maioria das vezes porque joga muitas vezes; e o torcedor, que anda vendo jogos sem qualidade, de pouca técnica e quase nenhum brilho. Hoje, são poucos os times que queremos ver em campo. São Paulo e Flamengo são dois que ainda atraem a atenção. O Palmeiras, após a chegada de Felipão, é outro – mais pelo técnico do que pelo elenco. O Grêmio também tem essa condição.

O pior é que a leitura dos cartolas é equivocada à situação. Como estão amarrados à CBF, contratos com as tevês, dívidas que só fazem aumentar e pouco interesse em mudar o cenário, que para alguns esconde a falta de competênci­a, tentam resolver o problema da única forma que sabem: demitindo técnicos. Isso já ocorreu algumas vezes na temporada. Na Ilha do Retiro, após a derrota do Sport para o São Paulo por 3 a 1, Claudinei Oliveira teria pedido para deixar o cargo.

Não é por isso que estamos perdendo nossos jogadores cada vez mais cedo (Rodrygo, do Santos, já foi vendido ao Real Madrid, mesmo time que comprou o flamenguis­ta Vinicius Junior), mas também é. Além do caminhão de dinheiro que é oferecido a esses meninos, eles e seus pais ou agentes não veem muito futuro no futebol brasileiro, principalm­ente pelo cenário atual, de muitos jogos, muitas cobranças, pouca qualidade e nenhum charme. Os “bons” não querem ficar. Os “ruins” ficam de olho nas janelas. Os que voltam de fora, voltam com intenção de ir de novo um dia. E assim gira a roda do nosso futebol.

O futebol brasileiro não sobrevive a mais três temporadas com tantos jogos

Corinthian­s. A “descontrat­ação” de Juninho (Sport) porque ele teria batido na namorada é a melhor notícia do ano no futebol brasileiro.

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