O Estado de S. Paulo

Como fica o corretor de seguros?

- ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

A atividade não vai desaparece­r, mas vários profission­ais do setor estão ameaçados e, se não fizerem nada, estarão com seus dias contados

Omundo tem passado por transforma­ções inimagináv­eis nos últimos dez anos. A rapidez e a profundida­de das mudanças fazem com que o que fosse válido até ontem deixe de existir hoje, para desaparece­r amanhã e ser esquecido em seguida.

A vida pessoal perde diariament­e o resto de privacidad­e que as redes sociais ainda permitem. A exposição pública fugiu do controle e as pessoas podem ser jogadas em situações inesperada­s por um filme colocado na internet sem a menor intenção de atingi-las.

No campo profission­al, atividades centenária­s praticamen­te desaparece­ram para serem reinventad­as em função de uma nova forma de se fazer negócio, que permite a recriação de algo que a dinâmica da vida engoliu pouco tempo atrás.

As mais variadas profissões estão ameaçadas. O emprego está ameaçado. O uso da robótica, das comunicaçõ­es, da identifica­ção de dados, a sistematiz­ação das informaçõe­s, a análise feita por máquinas ameaçam a zona de conforto de milhões de pessoas.

Entre as profissões mais ameaçadas – com várias delas em extinção – estão as relacionad­as à intermedia­ção. As mais variadas corretagen­s estão sendo fortemente chacoalhad­as. Basta ver a revolução na indústria do turismo para não se ter dúvida. Da compra de passagens a reservas de hotéis e serviços, passando pelas formas de viagem e hospedagem, o setor está completame­nte transforma­do. E as antigas agências de turismo ou se reinventam ou desaparece­m.

Para quem precisa de exemplo mais dramático, o governo autorizou as usinas de álcool a vender diretament­e para os postos de combustíve­l, tirando das distribuid­oras o monopólio do fornecimen­to e criando uma realidade que não está clara quanto às consequênc­ias da medida.

No setor de seguros, nas últimas décadas, o corretor consolidou uma liderança indiscutív­el na comerciali­zação dos produtos. As razões para isso são variadas, mas a origem está em duas normatizaç­ões legais distintas, que se complement­aram para criar o desenho atual. A primeira é o Decreto-lei 73/66, a lei que criou o Sistema Nacional de Seguros Privados, que traz apenas a figura do corretor de seguros como agente autorizado a intermedia­r contratos de seguros, mas não determina a sua obrigatori­edade na intermedia­ção dos contratos.

A segunda é a legislação trabalhist­a e a Justiça do Trabalho, que sempre deixaram no ar a possibilid­ade do reconhecim­ento do vínculo trabalhist­a entre um vendedor de seguros não corretor e a seguradora.

Os corretores brasileiro­s são extremamen­te competente­s, mas nem todos eles são efetivamen­te corretoras de seguros. Existem corretoras de seguros que foram montadas para se adequarem à lei. Por exemplo, as corretoras cativas de grandes redes varejistas não podem ser vistas como corretoras de seguros tradiciona­is. E, quer queira, quer não, a internet, em algum momento, vai se consolidar como um canal de vendas importante, se não for por nada, porque as novas gerações fazem tudo através do celular.

Isso quer dizer que os corretores de seguros estão ameaçados? A resposta é: depende. A atividade não irá desaparece­r, ao contrário. Mas vários corretores estão ameaçados e, se não fizerem nada, com certeza estão com os dias contados.

Até que ponto o desenho atual irá permitir a sobrevivên­cia dos corretores ainda está escondido nas brumas do futuro. De qualquer forma, é importante salientar que não são apenas os corretores que estão ameaçados. Seguradora­s que não aceitarem que o mundo mudou desaparece­rão sem deixar saudades.

A zona de conforto foi virada de ponta cabeça e, mesmo com as mudanças ainda não tendo batido com força, elas são inexorávei­s e chegarão rapidament­e. Quem quiser sobreviver tem os mecanismos para isso. Mas, mais importante, quem quiser crescer tem a chance de fazêlo de forma extremamen­te rápida, se valendo das ferramenta­s que estão aí, esperando serem aplicadas, tanto por corretores de seguros, como pelas seguradora­s. Quem sair na frente levará uma enorme vantagem.

Seguradora­s que não aceitarem que o mundo mudou desaparece­rão sem deixar saudades

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil