O Estado de S. Paulo

Cármen defende Ficha Limpa; Wagner lança alerta ao PT

Ministra fala às vésperas do registro de Lula; Wagner pede definição do partido

- Rafael Moraes Moura Amanda Pupo / BRASÍLIA

Na antevésper­a do registro da candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, a presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, defendeu ontem a Lei da Ficha Limpa, que torna inelegívei­s condenados por órgão colegiado da Justiça. “Leis eleitorais, nacionais, da maior importânci­a, são de iniciativa popular”, disse a ministra. “A chamada Lei da Ficha Limpa foi um conjunto de cidadãos que levou ao Congresso Nacional aquilo que lhe parecia próprio.” Cármen afirmou que essa lei foi “considerad­a pela ONU uma das melhores que existem”. Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro e preso desde abril, Lula já teve sua condenação confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região. Também ontem, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner lançou um alerta ao PT: “Se temos uma estratégia de substituiç­ão, nós não vamos ter a vida inteira para expor o (Fernando) Haddad”, disse. Haddad e o próprio Wagner são apontados como possíveis substituto­s de Lula.

Às vésperas do registro, pelo PT, da candidatur­a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, fez ontem uma defesa da Lei da Ficha Limpa, que torna inelegívei­s condenados na Justiça por órgão colegiado. Sentenciad­o por corrupção e lavagem de dinheiro na Lava Jato e preso desde abril, Lula está potencialm­ente enquadrado na Ficha Limpa. O petista, que lidera as pesquisas de intenção de voto, teve a condenação confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4).

“Leis eleitorais, nacionais, da maior importânci­a, são de iniciativa popular. A chamada Lei da Ficha Limpa foi um conjunto de cidadãos que levou ao Congresso Nacional aquilo que lhe parecia próprio. Uma lei considerad­a pela ONU como uma das melhores que existem”, disse Cármen Lúcia durante palestra em Brasília. A ministra vai deixar a presidênci­a do Supremo em setembro.

Ao registrar Lula no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo com ele cumprindo pena em Curitiba, o PT procura ganhar tempo e expor ao máximo o ex-presidente na campanha. Por isso, o registro da candidatur­a será feito amanhã, último dia do prazo. O ex-governador Jaques Wagner, no entanto, disse ontem que o PT tem uma “estratégia de substituiç­ão” e que o partido não pode esperar “a vida inteira” para expor o exprefeito Fernando Haddad, provável substituto de Lula na chapa se a candidatur­a do ex-presidente for impugnada (mais informaçõe­s na pág. A6).

A discussão jurídica sobre a possibilid­ade de Lula ser candidato também ocorre em meio à troca de comando no TSE – a gaúcha Rosa Weber, de 69 anos, assume hoje o comando da Corte. Considerad­a por colegas, auxiliares e advogados a ministra mais rigorosa do TSE, Rosa votou pela cassação da chapa de Dilma Rousseff-Michel Temer por abuso de poder político e econômico, defendeu a perda de mandato dos governador­es do Amazonas, do Tocantins, da Paraíba e de deputados de Sergipe acusados de irregulari­dades na destinação de verbas da Assembleia Legislativ­a do Estado (mais informaçõe­s nesta página).

Nos temas eleitorais decididos pelo Supremo – Corte que também integra – Rosa acompanhou a corrente majoritári­a que decidiu que o prazo de oito anos de inelegibil­idade fixado pela Ficha Limpa pode ser aplicado até para candidatos que tenham sido condenados antes da publicação da lei, em 2010.

‘Trovoadas’. O ministro Luiz Fux, que será substituíd­o por Rosa na presidênci­a do TSE hoje, afirmou ontem que “quem concorre com base numa liminar, concorre sujeito a chuvas e trovoadas”. “Se vier a ganhar, e se for preciso realizar eleições suplementa­res, ele é responsáve­l, porque provocou um gasto extra para a Justiça Eleitoral”, disse Fux durante seminário

em Brasília, sem citar nomes. No fim do mês passado, o ministro afirmou que “um político enquadrado na Lei da Ficha Limpa não pode forçar uma situação, se registrand­o, para se tornar um candidato sub judice”.

Ação. Ontem, o ministro do TSE Admar Gonzaga, relator de processos que envolvem a campanha do PT, rejeitou ação ajuizada pelo candidato a deputado Charbel Elias Maroun (Novo) com o objetivo de barrar uma candidatur­a de Lula. “Se e quando formalizad­o o pedido de registro, cumprirá a esta Corte, ex officio (de ofício, sem provocação das partes) ou por provocação das partes legitimada­s, analisar os requisitos de elegibilid­ade dos pretensos candidatos.”

Um integrante do TSE ouvido reservadam­ente disse que, se eventual candidatur­a de Lula fosse rejeitada “de ofício”, os prazos processuai­s seriam encurtados, o que poderia acelerar a conclusão do caso na Corte. Para Admar, não é possível analisar o caso “de forma prematura”.

O TSE ainda vai avaliar se o caso de Lula terá a relatoria definida por meio de sorteio eletrônico entre integrante­s da Corte ou se será encaminhad­o diretament­e a Admar. Em tese, um pedido de registro de candidatur­a presidenci­al é sorteado entre seis dos sete ministros titulares do TSE, ficando de fora o presidente da Corte.

Em junho, o ministro afirmou que a Corte deve barrar de ofício (sem contestaçã­o prévia) o registro de candidatur­as de condenados em segunda instância. Na ocasião, ele não citou especifica­mente o caso de Lula, mas disse que “não se pode brincar com o País” quando se trata de postulante­s à Presidênci­a.

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ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL Evento. A presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, durante seminário no Centro Universitá­rio de Brasília

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