O Estado de S. Paulo

‘Fiz uso de caixa 2, mas não agi como corrupto’, diz Cabral à Justiça

Ex-governador do Rio depôs a juiz federal e voltou a admitir que usou recursos financeiro­s não contabiliz­ados

- Marcio Dolzan Fábio Grellet / RIO

O ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho (MDB) voltou a admitir que recebeu recursos de caixa 2 em suas campanhas eleitorais, mas negou que “tenha agido como corrupto”. Segundo Cabral, que depôs ontem por uma hora ao juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio, os recursos de campanha não contabiliz­ados nunca foram acompanhad­os de promessas ou garantias de contratos durante seus governos.

O depoimento fez parte do processo decorrente da Operação Unfair Play, que investiga suposta compra de votos para o Rio sediar a Olimpíada de 2016. A oitiva de ontem tinha foco na participaç­ão do empresário Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, que está foragido.

Diante de Bretas, o ex-governador voltou a admitir que fez uso de recursos não contabiliz­ados, e que utilizou pelo menos parte do dinheiro da campanha para uso pessoal.

“Fiz uso de caixa 2. Não estou dizendo que é um mal menor. Não é estratégia de defesa”, disse Cabral. “O que não fiz foi pedir propina, agir como corrupto. Eu nunca cheguei ao Arthur Soares para pedir isto ou aquilo.”

Segundo Cabral, o empresário – que tinha alguns dos principais contratos com o governo do Rio – colaborou com sua campanha nas eleições de 2002 (o emedebista, na ocasião, concorreu ao Senado), 2006 e 2010 (governo do Estado). Também doou, a pedido de Cabral, recursos a aliados do ex-governador nos pleitos municipais de 2004, 2008 e “talvez” 2012. “Recebi em torno de R$ 5 milhões”, calculou.

Sergio Cabral procurou também se desvincula­r de atos nos quais secretário­s de seu governo são investigad­os por suposto recebiment­o de propina, caso, por exemplo, do ex-chefe da pasta da Saúde, Sérgio Côrtes.

“Eu descentral­izava tudo”, afirmou. “Não posso responder por terceiros.”

Côrtes depôs logo na sequência. Ele é suspeito de ter feito reformas na cobertura onde mora custeadas pelo empresário Rei Arthur. O ex-secretário de Saúde negou a propina e prometeu apresentar as notas fiscais que comprovari­am que ele próprio fez o pagamento.

Sérgio Côrtes, porém, admitiu que alguns contratos firmados por sua pasta durante a gestão Cabral eram viciados. Tinham cláusulas restritiva­s, que direcionav­am a vitória nos processos de licitação para empresas de Arthur Soares, afirmou.

O ex-secretário também foi questionad­o por Bretas sobre a declaração de Cabral, de que nunca pediu nada em troca por doações de campanha. Côrtes foi direto: “Eu não consigo absolutame­nte distinguir propina de doação de campanha”.

O terceiro e último depoimento de ontem foi da empresária Eliane Pereira Cavalcanti, sócia de Arthur Soares. Apesar da proximidad­e, Eliane negou ter conhecimen­to de qualquer irregulari­dade praticada pelo sócio.

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FABIO MOTTA/ESTADÃO Rio. Cabral deixa o prédio da Justiça Federal após depor

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