Polícia argentina faz buscas no prédio em que Cristina vive
Operação ocorre em área comum, já que residência de senadora é protegida pela imunidade parlamentar dela
Agentes da Polícia Federal argentina entraram ontem, sob ordem do juiz Claudio Bonadio, no prédio onde vive a ex-presidente e senadora Cristina Kirchner. A polícia não pode entrar no apartamento de Cristina, protegido por sua imunidade parlamentar.
As ordens de busca, que segundo o jornal Clarín valiam apenas para as áreas comuns do primeiro e quarto andares e, teriam o objetivo de conferir se a as características do local coincidem com a descrição feita pelo principal delator do caso no qual Cristina é acusada de receber propina, o motorista Oscar Centeno. O caso ficou conhecido com a “Lava Jato argentina”.
Mais cedo, a ex-presidente se apresentou no tribunal e entregou ao juiz declarações por escrito nas quais o desafia e ao promotor Carlos Stornelli, dizendo ser um “disparate” as acusações apresentadas contra ela de que teria recebido subornos milionários durante seu governo. Sem responder às perguntas do magistrado, disse ser vítima de uma perseguição do presidente Mauricio Macri.
Cristina, que governou a Argentina de 2007 a 2015, também rejeitou mais uma vez a competência do juiz – responsável por cinco dos seis casos em que ela é acusada –, e de Stornelli. Ela pediu que o caso, motivado pela entrega de cadernos com registros de supostos pagamento milionário de propinas para políticos kirchneristas, seja anulado por fazer uso de provas ilegais e não respeitar o devido processo legal.
A ex-presidente disse que a investigação é fruto de “uma decisão política do Poder Judiciário em coordenação com o Executivo e os meios de comunicação hegemônicos, para ungir Bonadio como o braço de perseguição” contra ela e líderes progressistas da América Latina.
O escândalo foi revelado no dia 1.º, quando Bonadio ordenou as detenções e depoimentos de dezenas de empresários do setor de obras públicas e exagentes públicos, com base nos cadernos de Centeno, um motorista do Ministério do Planejamento que escreveu durante uma década. Nas anotações, ele detalhava percursos que fez de carro com malas repletas de dólares para supostamente distribuí-las a funcionários de alto escalão de Néstor (20032007) e Cristina Kirchner (2007-2015).
Cristina é mencionada nos diários da corrupção com exfuncionários de seu governo e mais de 20 grandes empresários argentinos supostamente envolvidos no esquema de pagamento de suborno ou de financiamento ilegal de campanha. O procurador Stornelli diz que ela era “a chefe de uma associação ilícita”. Cristina negou que a declaração escrita tenha sido uma “estratégia para não prestar depoimento”.