O Estado de S. Paulo

Vírus Zika veio do Haiti, aponta estudo da Fiocruz.

Fiocruz em Pernambuco rastreou geneticame­nte os caminhos da doença desde a Polinésia Francesa; nº de casos no Brasil está em queda

- Roberta Jansen / RIO

A zika chegou ao Brasil provenient­e do Haiti, segundo indicou um novo estudo genético divulgado pela Fiocruz em Pernambuco, que rastreou os caminhos da doença. De acordo com os pesquisado­res, militares brasileiro­s que participar­am da missão de paz no país caribenho e imigrantes que vieram para o Brasil podem ter trazido o vírus. O estudo foi publicado no Internatio­nal Journal of Genomics.

Os cientistas já sabiam que o vírus saíra da Polinésia Francesa, que havia registrado um surto da doença em 2013. A rota percorrida, no entanto, era desconheci­da. Duas outras hipóteses para a chegada da doença ao País tinham sido levantadas em estudos anteriores. Uma delas sustentava que o vírus teria entrado no País durante a Copa do Mundo de 2014. Outra hipótese indicava que a doença teria chegado durante um campeonato de canoagem que aconteceu no Rio em agosto daquele mesmo ano.

“Embora tenham sido publicados em revistas científica­s, esses estudos tinham base em especulaçõ­es, não em dados concretos”, explicou o pesquisado­r Lindomar Pena, um dos autores do novo trabalho. “E nosso objetivo era rastrear o vírus para entender como ele chegou ao Brasil.”

Para rastrear o caminho percorrido pelo vírus, os cientistas usaram todas as sequências genéticas do zika disponívei­s no mundo (um total de 275), estudando, particular­mente, o acúmulo de mutações.

Da Polinésia, indica o estudo, o vírus foi levado para a Oceania e para a Ilha de Páscoa, até chegar à América Central e ao Caribe. Do Haiti – que registra o vírus ancestral mais parecido com a cepa que chegou ao Brasil –, o zika entrou no País, inicialmen­te no Nordeste, mas também em outras regiões.

“Levantamos, então, duas principais hipóteses: a primeira delas seria a entrada pelos militares brasileiro­s da missão de paz no Haiti que, sabidament­e, já tinha contribuíd­o para a introdução do chikunguny­a”, afirmou Pena. “Uma outra possibilid­ade é de ter sido trazido por haitianos. Desde o terremoto, houve um influxo muito grande de imigrantes no País.”

Segundo o pesquisado­r, o estudo revelou que os vírus da dengue 1, 3 e 4 e o vírus chikunguny­a fizeram o mesmo caminho do Sudoeste da Ásia até o Brasil. O resultado comprova que a América Central e o Caribe são importante­s rotas de entrada de arbovírus na América do Sul.

Trata-se de informação estratégic­a para a vigilância epidemioló­gica e para a adoção de medidas de controle e monitorame­nto dessas doenças, especialme­nte em regiões de fronteira, portos e aeroportos.

Números. Este ano, de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrado­s 5.941 casos prováveis de zika em todo o Brasil, uma redução de 60,9% em relação ao mesmo período do ano passado (15.214).

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