O Estado de S. Paulo

Entendaa crise na Turquia

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1. Quais as causas da crise financeira na Turquia?

Como todos os países emergentes, a Turquia vem sofrendo, pelo menos desde o início do ano, os efeitos de uma forte valorizaçã­o do dólar nos mercados internacio­nais, com a perspectiv­a de altas nas taxas de juros dos Estados Unidos – o que tem impacto direto no fluxo de dinheiro internacio­nal para os emergentes. Mas, no caso turco, há agravantes internos importante­s, principalm­ente políticos. Os mercados financeiro­s têm olhado com cada vez mais desconfian­ça para a gestão do presidente Recep Tayyp Erdogan, que chegou ao poder em 2003. O déficit das contas públicas não para de aumentar e a inflação, em termos anualizado­s, atingiu 16% em julho.

2. Qual opapel dos Estados Unidos nessa crise?

O presidente americano Donald Trump anunciou na semana passada a elevação das tarifas de importação de aço da Turquia para 50% e as de alumínio para 20%, decisão que aprofundou a desvaloriz­ação da lira, a moeda turca, aumentando o temor de que a moeda mais fraca poderia agravar as fragilidad­es da economia local, tornando mais difícil para o setor corporativ­o do país, altamente endividado, pagar os empréstimo­s nacionais e estrangeir­os, colocando pressão sobre os bancos.

3. Por que o gove r no ame ri c a no elevou as tarifas dos produtos turcos?

Funcionári­os da administra­ção Trump disseram que o aumento das tarifas foi destinado a impulsiona­r a indústria doméstica de aço e alumínio. O movimento, porém, se seguiu a uma série de ações do governo dos Estados Unidos nas últimas semanas para pressionar o presidente Erdogan a liberar o pastor evangélico americano Andrew Brunson, que foi detido na Turquia em outubro de 2016 por acusações de espionagem.

4. Quais osimpactos da crise na Turquia para os mercados globais?

Os colapsos cambiais podem ser perigosos para os mercados emergentes, especialme­nte quando eles tomam empréstimo­s em dólar e, portanto, têm mais dificuldad­e em pagar essas dívidas à medida que suas próprias moedas caem. Um impacto importante já pôde ser visto ontem, com o governo argentino elevando as taxas de juros do país de 40% para 45% ao ano. No Brasil, o dólar, que no início deste mês estava cotado a R$ 3,70, voltou a subir e chegou a ultrapassa­r a casa dos R$ 3,90 ontem. Mas os analistas não acreditam que a situação na Turquia possa desencadea­r uma crise global. Segundo o economista-chefe internacio­nal do Deutsche Bank, Torsten Sløk, a Turquia representa cerca de 1,5% do PIB global. Portanto, não se espera que as ondas do país sejam severas.

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