O antigo com potencial para se tornar novo
No Brasil é comum nos deparamos com construções antigas espalhadas pelos grandes centros urbanos, principalmente em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Recife. E o assunto gera muitos debates sobre otimizar os espaços e deixá-los mais atraentes para população, sem perder o peso histórico carregado nos anos de construção.
É preciso aceitar que empreendimentos tombados, patrimônios históricos e edificações clássicas fazem parte do cotidiano e podem servir, além de colírio para os olhos de turistas e transeuntes, como moradia, espaço para trabalho ou até mesmo lazer. Existe toda preocupação com a preservação da parte histórica e na memória do local, porém a falta de investimentos pode trazer a degradação e tornar algo positivo em negativo. A solução, porém, não é algo intangível. O retrofit tem potencial de transformação nesses casos.
A atividade serve como uma solução para o regaste de prédios abandonados. Trata-se de uma estratégia visando a revitalização de construções antigas, com o uso de novas tecnologias e funcionalidades, sem alterar as estruturas originais ou mexer nas características principais. Além de garantir segurança e recuperação para as fachadas históricas, ainda possibilita a modernização de instalações de sistemas elétricos, hidráulicos, de telefonia e elevadores.
Porém, há uma confusão recorrente do termo. Retrofit é diferente de restauração. A segunda opção tem como conceito a preservação, sem que haja nenhuma mudança na edificação original. Já o retrofit não está restrito a prédios históricos e pode ser aplicado ao mobiliário urbano, como praças, pontes e locais públicos.
A tendência é popular em países da Europa e Estados Unidos. Nesses locais as inserções tecnológicas sustentáveis são agregadas aos empreendimentos, o que valoriza os imóveis e promove a solução para a escassez imobiliária que acomete algumas regiões. Exemplos não faltam, o Empire States Building, localizado no centro de Manhattan, em Nova York. O prédio construído em 1931 possui 102 andares. O projeto de retrofit começou a ser implementado no local em 2009 e proporcionou melhor conforto térmico e acústico, melhor produtividade dos funcionários, uma menor utilização de ar condicionado e melhor aproveitamento da iluminação natural.
Outro exemplo é o retrofit aplicado na ponte de Blackfriars, localizada sobre o rio Tâmisa, em Londres. A estrutura criada em 1886 se transformou em uma moderna estação de trem movida pela energia gerada por mais de quatro mil painéis fotovoltaicos, evitando a emissão de 511 toneladas de CO2 na atmosfera. Localizada em Paris o edifício que abrigava a loja de departamento, La Samaritaine, é outro exemplo de boa implementação do retrofit. O prédio criado sob o estilo art decó, com 80 mil metros quadrados, abriga atualmente lojas, escritórios e um hotel com vista para o rio Sena. As escadarias, afrescos e o teto de vidro originais foram preservados durante o processo.
No Brasil já temos alguns bons exemplos como o do prédio que abriga hoje o Sesc 24 de Maio. Implementado no antigo edifício da loja Mesbla, ele carrega muitas adaptações estruturais e de acabamentos. Mas o processo no país é moroso. O tempo para conseguir uma liberação ou um alvará é muitas vezes superior do que o da execução da própria obra. A burocracia e a atual legislação, que está ultrapassada, se tornam impeditivos para que empreendedores invistam ainda mais nessa importante atividade. Leis voltadas para preservação do patrimônio também não facilitam que o investimento seja feito. É preciso todo um trabalho de conscientização de legisladores para aprimorar e atualizar as regras de construção, usando praticas mundiais já efetivamente e amplamente testadas. O incentivo para o setor está em recuperar imóveis em desuso e degradados, proporcionando uma nova utilidade à eles, sem prejudicar o avanço e o crescimento das cidades.
O retrofit tem potencial de transformação.