O Estado de S. Paulo

Credores bloqueiam dinheiro de venda de terras de Olacyr de Moraes à AMaggi

Disputa. Propriedad­es em Mato Grosso foram vendidas à empresa da família do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, em acordo avaliado em R$ 1,1 bilhão; negócio não foi cancelado, mas parte dos recursos ficará bloqueada para pagar dívidas de R$ 250 milhões

- Mônica Scaramuzzo

Credores do empresário Olacyr de Moraes, que morreu em junho de 2015, conseguira­m bloquear na Justiça boa parte do dinheiro da venda da Ciapar, que reúne fazendas em Mato Grosso. As terras tinham sido negociadas com o grupo AMaggi, da família do ministro da Agricultur­a, Blairo Maggi, apurou o ‘Estado’. O valor total da transação é de cerca de R$ 1,1 bilhão. Filha do ex-rei da soja, Ana Cláudia de Moraes, herdou os negócios agrícolas do pai – entre eles, a Usinas Itamarati, com dívidas de cerca de R$ 3,2 bilhões. O processo corre em segredo de Justiça.

Na prática, a decisão não inviabiliz­a a venda das fazendas para AMaggi, o que preocupava tanto os acionistas quanto os compradore­s. Contudo, os recursos não ficarão disponívei­s até que uma decisão final sobre o caso seja tomada. Ainda cabem recursos. A venda das fazendas à AMaggi foi concluída no fim do ano passado. Os credores bloquearam os valores para reaver uma dívida de R$ 250 milhões, em valores atualizado­s.

Segundo fontes a par do assunto, a venda das fazendas foi a grande aposta da herdeira para reduzir o endividame­nto de negócios problemáti­cos da família – caso da Usinas Itamarati, de açúcar e álcool. A Ciapar reúne propriedad­es de soja, milho e algodão em Mato Grosso, totalizand­o 105 mil hectares.

Essas fazendas estavam arrendadas desde 2002 para a família Maggi, tradiciona­is produtores de grãos do Centro-Oeste. As terras eram uma das principais

fontes de recursos dos Moraes, pois os outros negócios do ex-rei da soja não tinham vingado. O empresário foi também dono de construtor­a (a Constran, vendida à UTC) e de um banco, chegando a ser considerad­o um dos homens mais ricos do mundo.

O processo que bloqueou os recursos da venda das fazendas foi movido pela Marne, que pertence a dois empresário­s italianos, Fiorenzo Sartor e Marco Basso. Eles usaram o argumento de “incidente de desconside­ração de personalid­ade jurídica”. A dívida que eles cobram é originalme­nte da GPart, holding constituíd­a em 2006 para investir em negócios sucroalcoo­leiros. À época, a empresa adquiriu ativos no Mato Grosso do Sul que pertenciam a Sartor e Basso.

Herança. Ainda em vida, Olacyr de Moraes repassou seus bens agrícolas para a filha Ana Cláudia. Ela herdou vários negócios, entre eles a Usinas Itamarati, que chegou a ser a maior do mundo, e a Ciapar, dona das terras vendidas à Amaggi. Os credores rastrearam as diversas empresas da herdeira para cobrar a dívida.

Uma primeira decisão da 2.ª Vara de Falências e Recuperaçõ­es Judiciais de São Paulo determinou, em julho, que a “Agropecuár­ia Maggi deposite em juízo, integralme­nte, o valor devido aos vendedores das ações da Ciapar”.

Ainda de acordo com essa primeira sentença, os recursos dos acionistas da Ciapar, que incluem as empresas Baywalk e SCVSPE, foram bloqueados. Essas duas companhias pertencem ao advogado Sérgio Spinelli, ex-Mattos Filho e hoje à frente da Spinelli Advogados. Ele é sócio de Ana Cláudia de Moraes e chegou aportar recursos na empresa. O Estado apurou que,

dias depois, a 2.ª Vara excluiu a Baywalk e SCVSPE do bloqueio, por entender que essas empresas não têm ligação nenhuma com a GPart.

Procurada, Ana Cláudia informou, por meio de um interlocut­or, que não irá se pronunciar. Spinelli também não comentou. O escritório Arruda Alvim & Thereza Alvim, que representa a Marne, não retornou os pedidos de entrevista. A AMaggi informou, em nota, que adquiriu a totalidade das ações da Ciapar e disse não comentaria a questão do bloqueio de recursos.

 ?? JUAN GUERRA/ESTADÃO - 4/10/2008 ?? Herança. Ex-rei da soja, Olacyr de Moraes, que morreu em junho de 2015, transferiu seus negócios agrícolas para sua filha
JUAN GUERRA/ESTADÃO - 4/10/2008 Herança. Ex-rei da soja, Olacyr de Moraes, que morreu em junho de 2015, transferiu seus negócios agrícolas para sua filha

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