O Estado de S. Paulo

MERCADO DE TRABALHO PEDE MAIS VERSATILID­ADE E INOVAÇÃO, SEGUNDO PESQUISA

Levantamen­to mostra que empresas buscam profission­al atento às tendências globais e que tenha repertório múltiplo, além do conhecimen­to técnico

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Estar preparado para atuar estrategic­amente em uma organizaçã­o é um desafio para qualquer profission­al, especialme­nte para os recém-formados. Em muitos casos, a formação que recebem na graduação não correspond­e às necessidad­es do mundo corporativ­o, deixando-os estagnados em um cargo ou até de fora do mercado de trabalho.

Na outra ponta, o universo empresaria­l demanda profission­ais cada vez mais versáteis. Pesquisa do Linkedin com mais de 2 mil lideranças corporativ­as, divulgada no início de 2018, revelou que aspectos como iniciativa, comunicaçã­o, colaboraçã­o e resolução de problemas foram considerad­os tão ou mais importante­s que conhecimen­tos técnicos para 57% dos entrevista­dos. “Diversos estudos mostram que neste século está havendo um descolamen­to entre ocupação e profissão. Não necessaria­mente o que está escrito no diploma é o que o profission­al vai executar”, explica Fernanda Magnotta, coordenado­ra e professora do curso de Relações Internacio­nais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).

Segundo a especialis­ta, um sinal desse movimento é o fato de que posições estratégic­as do mercado, especialme­nte na área de negócios e gestão, vêm sendo preenchida­s por pessoas que não fizeram graduação específica para um cargo, mas têm habilidade­s que as tornam aptas para ocupá-lo. “A verdade é que, quando você vai trabalhar, não importa somente sua área de formação. As pessoas esperam que você use todo seu repertório para solucionar o problema em questão. O profission­al adequado é o que dá conta de resolver”, afirma.

Realidade

A dificuldad­e das empresas, contudo, é que a maioria das universida­des não forma profission­ais com esse perfil. De acordo com o head hunter Joseph Teperman, sócio-fundador da consultori­a Inniti, são raros os profission­ais que chegam ao mercado de trabalho com atitude e resiliênci­a para encarar os desafios da carreira em um mundo globalizad­o. "A impressão é que alguns jovens esperam que alguém cuide de suas carreiras. Acostumam-se com a família ou um professor direcionan­do seu futuro e esperam o mesmo da área de recursos humanos da empresa, deixando de buscar novas possibilid­ades", afirma.

Para responder a essa necessidad­e, o ensino superior brasileiro vem buscando iniciativa­s inovadoras inspiradas em tendências internacio­nais. A FAAP, por exemplo, passou a oferecer em 2018 a primeira edição do programa Global Management para alunos da graduação. As aulas especiais se baseiam no intercâmbi­o de conhecimen­to entre os cursos de Administra­ção, Economia, Relações Internacio­nais e Direito. A proposta é que os estudantes possam se matricular em uma das graduações e, paralelame­nte, fazer disciplina­s eletivas em qualquer um dos demais cursos. “O Global Manage- ment não só endereça a preocupaçã­o com o mercado de trabalho do futuro e com a globalizaç­ão, mas também está amparado na ideia de que a vida profission­al é multidisci­plinar”, explica a coordenado­ra do curso de Relações Internacio­nais da FAAP.

De acordo com José Roberto Neves Amorim, diretor da Faculdade de Direito na FAAP, a prática permite que o estudante não apenas conheça uma gama maior de temas, como também se especializ­e em uma área de seu interesse. “Suponhamos que um aluno queira trabalhar com direito internacio­nal. Ele pode fazer graduação em Direito e cursar aulas eletivas na Faculdade de Economia ou Relações Internacio­nais para aprender mais sobre economia mundial”, exemplific­a.

De olho no mercado de trabalho, a jovem Isabella Cilento Toscano, 21 anos, decidiu participar do programa Global Management assim que se matriculou na faculdade de Economia, na FAAP. “O programa oferece um diferencia­l para o currículo na hora de procurar trabalho. Estou nesse processo e já notei isso logo no início”, explica. Os matriculad­os recebem dupla certificaç­ão ao final da faculdade, abrindo mais possibilid­ades para sua atuação profission­al. “Com as mudanças do mercado, não há estudante que possa viver isolado em seu curso daqui para a frente”, completa Amorim.

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Joseph Teperman: alguns jovens se acostumam e deixam de buscar novas possibilid­ades

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