O Estado de S. Paulo

‘Tudo o que a gente faz envolve informátic­a’

- Renato Opice Blum

O advogado Renato Opice Blum formou-se em uma época em que não se falava sobre Direito Digital no Brasil. Experiênci­as como estagiário, no entanto, levaram o rapaz a se deparar com problemas de software e hardware relacionad­os ao Direito. Em 1997, dois anos depois de se formar nas Faculdades Metropolit­anas Unidas (FMU), o advogado montou com o pai a “primeira butique jurídica do Brasil especializ­ada em Direito Digital”, como descreve o site de seu escritório, que leva o sobrenome da família.

Hoje, a equipe conta com cem funcionári­os e atua em compliance digital, segurança da informação, privacidad­e, proteção de dados, criptomoed­as, crimes eletrônico­s e fraudes digitais, entre outras áreas. O escritório de Blum aproveita a boa onda por que passa o Direito Digital no Brasil, afetado principalm­ente por leis de regulament­ação de proteção de dados, como o Regulament­o Geral sobre a Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) ou a nova lei brasileira de proteção de dados, que aguarda sanção presidenci­al desde maio.

• Como a nova lei aprovada pelo Senado, aguardando sanção da Presidênci­a, pode mudar o dia a dia do trabalho?

Vai aumentar muito a demanda de trabalho. A gente agora tem um aumento decorrente diretament­e da lei europeia (GDPR, sigla em inglês para Regulament­o Geral sobre a Proteção de Dados, aprovado em maio deste ano pela

União Europeia), que já traz consequênc­ias para as empresas brasileira­s, sejam ou não ligadas a companhias europeias. Com a lei, há obrigatori­edade em dar conformida­de e compliance. Nós estimamos que o trabalho do escritório dobre em relação a ações de conformida­de em virtude dessa nova lei.

• Como é atualmente o mercado de Direito Digital no Brasil?

O Brasil tem uma demanda peculiar em virtude da interativi­dade do brasileiro. Ele é muito conectado, então a informação do brasileiro tem muita relevância. E isso cria uma série de consequênc­ias jurídicas, seja na utilização de dados (como na parte contratual), seja na repressão do uso indevido desses dados. Mas o mercado brasileiro é muito bom.

• A academia é ligada ao Direito Digital ou é resistente a esse tema?

Nós já temos faculdades com disciplina­s específica­s de Direito Digital ou Eletrônico na graduação. Existem algumas pós-graduações, extensões, em várias universida­des no Brasil inteiro. Há uma demanda crescente por essas disciplina­s. Elas começaram antigament­e como optativas e hoje muitas delas são obrigatóri­as. É uma área que atrai. É moderno falar em Direito Digital.

• Na sua época de faculdade, qual era o cenário para o Direito Digital?

Não tinha. Existiam apenas áreas normais, como Direito Civil. Forçando um pouquinho, a área mais próxima era o Direito Autoral. Depois começou o Direito de Informátic­a, mas na época que eu fiz faculdade não existia.

• Você vê com bons olhos essas iniciativa­s no Brasil? Sim, isso mostra modernidad­e e atrai o estudante. Tudo o que a gente faz hoje envolve o uso da informátic­a e do digital.

• O profission­al vem preparado para o mercado? Não, ele não vem preparado. No mínimo tem de fazer uma especializ­ação e começar na prática para ter alguma experiênci­a curricular. Eu tenho para mim que não existe profission­al preparado, até em função das necessidad­es. Quem faz curso na graduação tem uma vantagem porque já tem o conhecimen­to básico. Se fizer uma especializ­ação, mais ainda. A prática é o que mais conta. No recrutamen­to, não levo muito em consideraç­ão a universida­de. Considero como o profission­al se porta em dinâmicas de grupo, os objetivos e a conversa em si. E também a experiênci­a dele e o que estudou além da academia. / GUILHERME GUERRA, ESPECIAL PARA O ESTADO

Renato Opice Blum

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil