O Estado de S. Paulo

Valec pode perder obra da Ferrovia Norte-Sul

MPF junto ao TCU quer tirar a estatal das obras que ainda não foram concluídas

- André Borges / BRASÍLIA

O Ministério Público Federal junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) vai sugerir a retirada da Valec de obras da Ferrovia Norte-Sul que ainda não foram concluídas pela estatal. A proposta, conforme apurou o ‘Estado’, é defendida pelo procurador do MPF Júlio Marcelo Oliveira. Ele não comenta o assunto.

O parecer do procurador com este e outros apontament­os tem previsão de ser entregue até amanhã ao ministro Bruno Dantas, que é o relator do processo. O governo tem a expectativ­a de que o processo seja submetido pelo ministro ao plenário da Corte já na próxima semana, no dia 22, mas não há confirmaçã­o sobre isso. Bruno Dantas também não se pronuncia sobre o assunto. No TCU, porém, há uma tendência de se acatar as propostas do MPF.

A mudança mexe profundame­nte com a proposta de concessão da Norte-Sul – único trecho de ferrovia que, na prática, tem mais chances de ser leiloado pelo governo neste ano – porque passa a exigir novos investimen­tos do futuro concession­ário que vencer o leilão.

O traçado total da Norte-Sul que será concedido tem 1.537 quilômetro­s, ligando os municípios de Porto Nacional, em Tocantins, a Estrela D’Oeste, em São Paulo. Acontece que no tramo de 682 km, compreendi­do entre Ouro Verde de Goiás (GO) e Estrela D’Oeste, ainda há obras para serem entregues. Cronograma. O trecho está dividido em cinco lotes. O plano atual do governo é fazer com que a Valec entregue 100% dos lotes 1, 2 e 3, deixando as obras remanescen­tes dos lotes 4 e 5 sob a responsabi­lidade do novo concession­ário. A estatal, no entanto, tem atrasado constantem­ente seu cronograma e há riscos de que não consiga deixálos prontos até o leilão.

O entendimen­to do MPF é de que, ao assumir todas as obras remanescen­tes – todos os lotes estão com mais de 90% de execução física –, o concession­ário terá mais clareza sobre o que efetivamen­te vai receber ao assumir o empreendim­ento e qual será o investimen­to necessário para concluí-lo.

Hoje, segundo dados confirmado­s pela Valec, faltam R$ 158,7 milhões a serem pagos para que os lotes 1, 2 e 3 sejam entregues. Até agora, a conta de obras inacabadas dos lotes 4 e 5 chegava a R$ 175,8 milhões. Com a proposta, portanto, a concession­ária que vencer o leilão da Norte-Sul teria de injetar mais R$ 334,5 milhões nos trilhos.

O Estado apurou que o plano de concessão inicialmen­te previsto – e defendido por técnicos que atuaram no desenho da proposta – já era deixar todas as obras faltantes para o novo dono da ferrovia.

O Ministério dos Transporte­s, porém, à época comandado por Maurício Quintela (hoje candidato ao Senado pelo PR), defendeu que a Valec tinha de permanecer à frente de alguns lotes e que teria condições de entregar seus trechos. A Valec é, historicam­ente, comandada por apadrinhad­os do PR.

Além do impasse com as obras remanescen­tes, o governo precisa adotar uma solução para o problema das pedras de baixa qualidade utilizadas no lote 5 da ferrovia. Conforme reportagem publicada no dia 13, pelo Estado, a troca das pedras do trecho – que exigiria a desmontage­m e remontagem de tudo – custaria R$ 103 milhões a mais, e levaria 32 meses para ser executada.

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DIDA SAMPAIO/ESTADAO-16/5/2014 Atraso. Norte-Sul ainda tem longo trecho de 682 Km onde há obras a serem entregues

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