O Estado de S. Paulo

Facebook derruba rede que vendia engajament­os

Mantido por brasileiro­s, grupo foi detectado em investigaç­ão sobre amplificaç­ão artificial de engajament­o em páginas políticas no México

- / DANIEL BRAMATTI, CECÍLIA DO LAGO, LUIZ FERNANDO TOLEDO, CAIO SARTORI e ALESSANDRA MONNERAT

O Facebook detectou evidências de comércio de seguidores e curtidas e derrubou uma rede de “engajament­o falso” formada por 72 grupos, 50 contas e cinco páginas na rede social. Foram deletadas ainda 51 contas no Instagram. Mantida por brasileiro­s, a rede foi detectada em investigaç­ão sobre a amplificaç­ão artificial de engajament­o em páginas políticas na recente campanha eleitoral no México. O objetivo seria lucrar com as falsas interações.

Após detectar evidências de comércio de seguidores e curtidas, o Facebook derrubou, na manhã de ontem, uma rede de “engajament­o falso” formada por 72 grupos, 50 contas e cinco páginas na rede social. Foram deletadas ainda 51 contas no Instagram, que eram relacionad­as ao mesmo grupo. No fim da tarde, o Facebook anunciou a exclusão de mais sete perfis e dois grupos. Isso ocorreu depois que parte dos integrante­s da rede tentou voltar à plataforma.

Mantida por brasileiro­s, a rede foi detectada durante uma investigaç­ão sobre a amplificaç­ão artificial de engajament­o em páginas políticas no México, durante a recente campanha eleitoral naquele país, conforme revelou ontem o Portal Estadão.O objetivo seria lucrar com essas falsas interações.

Quem descobriu o mercado de compra e venda de engajament­o foi o Digital Forensic Research Lab (DFRLab), uma unidade investigat­iva do Atlantic Council, organizaçã­o não governamen­tal norte-americana que municia o Facebook com informaçõe­s sobre “ameaças de abusos” e “campanhas de desinforma­ção” na rede social.

O Estado teve acesso ao relatório preparado pelo DFRLab, em parceria com o Centro Adrienne Arsht para a América Latina. Segundo a investigaç­ão, a rede negociava interações na rede social, seguidores e até páginas em troca de dinheiro. No México, teria se envolvido na promoção de conteúdo político, principalm­ente contrário ao então candidato Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, que foi eleito. O risco era de que influencia­ssem também nas eleições brasileira­s, embora isto não tivesse sido detectado pelo relatório.

A justificat­iva para a remoção das páginas e perfis é a violação de políticas de autenticid­ade e de spam. “Não permitimos o uso de informaçõe­s enganosas ou imprecisas para conseguir curtidas, seguidores ou compartilh­amentos”, afirma um trecho do documento Padrões da Comunidade, que estabelece as regras de uso do Facebook. A plataforma também não permite que usuários usem identidade­s falsas.

Política. O grupo que coordenava as páginas se chamava PCSD. Um dos administra­dores, Jhonatan Yahsser (o sobrenome é fictício e usado por ele nas redes sociais), disse à reportagem que nunca ganhou dinheiro com elas e nem tem ligação com políticos (mais informaçõe­s nesta página).

A entidade americana, no entanto, detectou que reações a dois posts de conteúdo político apelativo em duas páginas distintas do Facebook, “vieram não apenas de contas brasileira­s, mas das mesmas contas brasileira­s, e reagiram na mesma ordem”.

Os usuários tinham conexões com a página brasileira Frases & Versos, que acumulava mais de 5,3 milhões de curtidas até recentemen­te. Entre seus administra­dores estava um usuário identifica­do como Anderson Leite – era este o elo com a rede PCSD. Membros do grupo descreviam negociaçõe­s de interações no Facebook, no Twitter e no Instagram “em troca de dinheiro, de pagamentos via PayPal, ou de outras páginas”, segundo o documento.

Nos últimos meses, o Facebook tem adotado medidas para coibir engajament­os falsos ou inchaço artificial de seguidores. Desde junho, por exemplo, qualquer usuário pode verificar se uma página teve o nome alterado e a data de sua criação. O objetivo é evitar, por exemplo, que uma página sobre animais de estimação, depois de conquistar milhares de seguidores, seja vendida para terceiros interessad­os em difundir determinad­as posições políticas.

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DADO RUVIC/REUTERS-29/10/2014 Proteção. O Facebook vem adotando medidas para coibir engajament­os falsos e inchaço artificial de seguidores na rede
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FACEBOOK/REPRODUÇÃO Esquema. Perfis curtiam postagens de políticos mexicanos

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