O Estado de S. Paulo

Sem herbicida não há safra, diz agronegóci­o

Produtos à base de glifosato tiveram registro suspenso no Brasil depois que a Monsanto foi condenada nos EUA em caso de câncer

- Leticia Pakulski COLABORARA­M CAMILA TURTELLI E ANNA CAROLINA PAPP

Às vésperas do plantio da próxima safra, o setor produtivo diz ser inviável iniciar os trabalhos sem o uso do glifosato – herbicida agrícola que voltou a ser alvo de polêmica. Na semana passada, um júri da Califórnia condenou a Monsanto a pagar indenizaçã­o de US$ 289,2 milhões a um homem que afirma ter contraído câncer devido à exposição a um herbicida com glifosato produzido pela empresa.

A decisão nos EUA fez a Justiça Federal no Distrito Federal suspender o registro de produtos à base do ativo a partir de 3 de setembro até que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) conclua reavaliaçã­o toxicológi­ca. A expectativ­a é que a Advocacia-Geral da União (AGU) recorra da decisão até a próxima semana, usando como subsídios informaçõe­s do Ministério da Agricultur­a.

“Sem glifosato não tem safra no Brasil”, disse o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antonio Galvan. Ele lembra que o Brasil adota o sistema de plantio direto, que é a semeadura da nova safra diretament­e após a colheita da anterior.

A partir da retirada do milho safrinha do campo, o que deve ser finalizado este mês, o glifosato é jogado para eliminar a cobertura vegetal ou plantas daninhas que ficam no solo, como preparação para o plantio da soja, que no Brasil começa em setembro. Com isso, o produtor evita ter de arrancar essa cobertura e revirar o solo, aproveitan­do a matéria orgânica como adubo.

O superinten­dente da Organizaçã­o das Cooperativ­as do Paraná, Robson Mafioletti diz que o glifosato está na chamada faixa verde dos defensivos agrícolas, para produtos considerad­os menos tóxicos em caso de aplicação errada. “Sem ele, o Brasil teria dificuldad­e de fazer o cultivo de 35 milhões de hectares na safra 2018/19.”

Justiça. Na decisão no DF, a juíza federal Luciana Raquel Tolentino de Moura cita nota técnica emitida pela Fundação Oswaldo Cruz sobre o risco à saúde causado pelos agrotóxico­s. “Tanto para os trabalhado­res expostos a essas substância­s quanto para os consumidor­es de culturas tratadas e para a população, razão pela qual necessitam de uma detalhada avaliação para obtenção de registro”.

Em seu relatório, a magistrada afirma que, apesar de a Anvisa ainda considerar o glifosato como substância pouco tóxica, estudos promovidos pela própria autarquia concluíram que o tratamento com glifosato mostrou aumento significat­ivo de “aberrações cromossómi­cas”.

A decisão judicial está atrapalhan­do a distribuiç­ão do produto em Mato Grosso. “As revendas não entregam aos produtores porque entendem que estariam suspensas as vendas e temem punição”, disse Galvan.

Em nota, a Monsanto afirmou que “o glifosato é vital para a agricultur­a brasileira. Em avaliações de quatro décadas, a conclusão de especialis­tas em todo o mundo - incluindo a Anvisa, autoridade­s reguladora­s nacionais nos EUA, Europa, Canadá, Japão e outros países, além de organizaçõ­es internacio­nais de ciência e saúde - tem sido que o glifosato pode ser usado com segurança.” /

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MARCIO FERNANDES/ESTADÃO-14/3/2006 Plantio. O glifosato é jogado para eliminar a cobertura vegetal ou as plantas daninhas

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