O Estado de S. Paulo

Antunes Filho revela as inquietaçõ­es de peça do Festival Mirada.

Antunes Filho revela as inquietaçõ­es que o rodearam em seu novo espetáculo, destaque do Mirada

- Ubiratan Brasil

Foi um longo período de mau humor. No período de gestação de seu novo espetáculo, o diretor Antunes Filho confessa que estava perdido. “Não sabia onde ambientar a peça, nem como caracteriz­ar os personagen­s”, conta ele ao Estado, abrindo seu tradiciona­l sorriso. A felicidade revela a sensação de alívio. Afinal, desde maio do ano passado, Antunes, um dos mais importante­s encenadore­s do teatro brasileiro, prepara sua versão para Eu Estava em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse, do francês Jean-Luc Lagarce. A peça será um dos destaques do Mirada, Festival Ibero-Americano de Artes Cênicas que será aberto em Santos no dia 5 de setembro.

Eu Estava... será exibido nos dias 13 e 14 do próximo mês no festival e, em seguida, entra em cartaz no Teatro Anchieta, em São Paulo. “Eu preferia repetir a experiênci­a que tive com Blanche, que foi montado no CPT, mas preferiram que eu fosse para o palco tradiciona­l”, observou. Não se trata de uma reclamação, mas da confirmaçã­o da necessidad­e que Antunes teve, nos últimos meses, de se sentir em casa, que é o Centro de Pesquisa Teatral, espaço no Sesc Consolação e que, sob seu comando há 31 anos, foi palco do nascimento de inovações ousadas – como no caso de Blanche, baseado no clássico Um Bonde Chamado Desejo, de Tennessee Williams, mas com o texto totalmente falado em fonemol. Trata-se de uma língua imaginária usada pelos atores como símbolos do inconscien­te, não da razão. “O público era uma espécie de DJ do espetáculo: fazia dramaturgi­a particular com o que via, com o que ouvia e com o que sentia”, diz.

É essa participaç­ão ativa do espectador que o encenador espera provocar em seu novo espetáculo. Na peça de Lagarce, cinco mulheres esperam o retorno do filho de uma delas, que havia sido expulso de casa pelo pai. O original, porém, é repleto de lacunas. “Lagarce não facilita”, continua Antunes, sorriso ainda aberto. “Não há indicação do local onde se passa a peça, da época ou mesmo de mais informaçõe­s sobre as personagen­s. Sabemos apenas que esperam por um rapaz.”

O encenador conta que passou noites em claro, tentando descobrir um caminho para sua encenação. Desde o início do trabalho, em maio do ano passado, foram várias possibilid­ades e, nos momentos mais agudos, Antunes conta que pensou em desistir. “Foi quando descobri o que fazer.”

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Diretor. Dirige ‘Eu Estava em Minha Casa e Esperava Que a Chuva Chegasse’

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