O Estado de S. Paulo

Um país que resiste à pressão chinesa para isolar Taiwan

Taiwaneses cultivam fidelidade paraguaia com dinheiro e veículos; aliados da ilha eram 28 em 1990 – hoje, são 17

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Se a posse do presidente do Paraguai está atraindo alguma atenção internacio­nal, é mais por causa de um dos convidados: Tsai Ing-wen, a presidente de Taiwan. O Paraguai é um dos 17 países (mais o Vaticano) que mantêm relações diplomátic­as com Taiwan. Esses países ficam, assim, impedidos de ter relações formais com a China, que considera a ilha nação uma província rebelde. E continuam sofrendo intensas pressões do governo chinês para se afastar de Taiwan, tanto em forma de incentivos (grandes investimen­tos) quanto de punições (restrições ao turismo). Quanto tempo vão aguentar?

Em 1990, Taiwan tinha 28 aliados, mas esse número vem declinando. Só nos dois últimos anos, a China puxou para seu lado quatro deles: Burkina Fasso, República Dominicana, Panamá e São Tomé e Príncipe. Pelo raciocínio chinês, é impossível ter relações diplomátic­as com os dois paíse, pois, na verdade, eles são um só. Taiwan acusa a China de usar a “diplomacia do dólar” para caçar aliados.

Pouco antes de a República Dominicana mudar de amigo, no início do ano, a China ofereceu ao país investimen­tos e empréstimo­s no total de US$ 3,1 bilhões, segundo o governo taiwanês. Taiwan também faz seu jogo da sedução: o Paraguai vem recebendo da ilha dinheiro e carros para equipar a polícia. Uma história compartilh­ada também ajuda: o Paraguai e Taiwan estabelece­ram relações em 1957, aproximand­o-se por causa do anticomuni­smo de ambos.

O governo chinês tem aumentado seus esforços para isolar Taiwan após novas tensões emergirem em 2016, quando Tsai chegou ao poder. Dos dois principais partidos políticos da ilha, o da presidente é o que mais defende a independên­cia. Desde a posse de Tsai, o governo chinês vem pressionan­do, com sucesso, empresas aéreas estrangeir­as a não usarem os termos “Taiwan, China” ou “Taipé Chinesa” em seus sites. As companhias americanas removeram discretame­nte qualquer referência a Taiwan de suas páginas, mesmo com a Casa Branca consideran­do a exigência chinesa um “nonsense orwelliano”. Recentemen­te, o campeonato de tênis de Wimbledon criou polêmica na internet ao tuitar que um dos vencedores era “da Taipé chinesa”.

A China, silenciosa­mente, instruiu suas agências de viagem a não levarem grupos de turistas a Taiwan ou a países aliados da ilha, incluindo o Vaticano e o minúsculo Palau. Em maio, Pequim vetou que políticos e jornalista­s taiwaneses fossem convidados para a Assembleia-Geral anual da Organizaçã­o Mundial da Saúde. O Global Times, jornal nacionalis­ta chinês ligado ao Diário do Povo, órgão oficial do Partido Comunista, advertiu meses atrás que a China deve se preparar para um conflito militar no Estreito de Taiwan.

A China não vai parar de tentar enfraquece­r alianças de Taiwan. Segundo o ministro do Exterior chinês, Wang Yi, trata-se de uma determinaç­ão. O presidente eleito do Paraguai, Mario Abdo Benítez, espera assinar um acordo comercial com a China por meio do Mercosul. Benítez assegurou ao governo taiwanês que o Paraguai não abandonará as relações bilaterais. Mas muitos outros ex-amigos de Taiwan prometeram a mesma coisa.

Burkina Fasso uma vez chamou de “ultrajante­s” as ofertas de dinheiro da China para que mudasse de lado, mas dois anos depois, desconvers­ou. A China vem tornando cada vez mais difícil ser aliado de Taiwan esperando que, se nenhum outro país reconhecer a ilha, fique mais fácil fazer o que chama de “reunificaç­ão”. /

Abdo espera assinar um acordo comercial com Pequim por meio do Mercosul e manter elo com taiwaneses

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