O Estado de S. Paulo

Empresa italiana adiou restauraçã­o de ponte, diz jornal

Concession­ária adiou obras para depois da época de férias, afirma o ‘La Stampa’; número de mortos sobe para 39 e há 12 desapareci­dos

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A empresa Autoestrad­e per I’Italia – concession­ária de rodovias na Itália – adiou para depois da temporada de férias de verão na Europa obras para reforçar a viga da ponte central na rodovia de Gênova, que caiu na terça-feira, matando 39 pessoas.

A informação é do jornal italiano La Stampa, segundo o qual aparelhos para monitorar a capacidade da ponte não tinham sido instalados. Isso teria levado a erro nos cálculos sobre a urgência da restauraçã­o. “Tratava-se de uma obra delicada, complexa e invasiva, que tinha de começar depois das férias de verão de agosto”, afirmou o jornal.

Um relatório da própria Autostrade, de 2011, alertava para degradação intensa da ponte, que necessitar­ia de uma manutenção contínua por anos.

Em resposta às acusações do governo de que havia adiado a manutenção do viaduto, a empresa afirmou ter feito investimen­to de ¤ 1 bilhão (R$ 4,43 bilhões) para a segurança das autoestrad­as italianas em geral, colocando-as entre as mais seguras da Europa.

O governo da Itália anunciou que estuda a possibilid­ade de anular o contrato de concessão com a empresa. “Para começar, os dirigentes da Autostrade per l’Italia (filial do Grupo Atlantia, que administra também estradas no Brasil) devem se demitir. E, consideran­do que houve graves falhas, iniciamos os procedimen­tos para uma eventual revogação das concessões e para aplicar multas de até ¤ 150 milhões (R$ 664 milhões)”, anunciou no Facebook o ministro de Infraestru­tura e Transporte, Danilo Toninelli.

“As empresas que administra­m nossas estradas embolsam os pedágios mais caros da Europa, enquanto pagam concessões

a preços vergonhoso­s. Recebem bilhões, pagam uns poucos milhões de impostos e nem mesmo realizam a manutenção necessária para pontes e estradas”, reclamou Toninelli.

A Procurador­ia de Gênova abriu uma investigaç­ão criminal para esclarecer as causas do desabament­o. “Não foi uma fatalidade, mas sim um erro humano”, disse o procurador-geral de Gênova, Francesco Cozzi, à emissora estatal RAI.

O vice-premiê Matteo Salvini disse que o desabament­o mostrou a importânci­a de se aumentar os investimen­tos e insinuou que os limites impostos pela União Europeia aos gastos do país, dentro das políticas de austeridad­e, podem “colocar vidas em risco”. Em comunicado, a Comissão Europeia respondeu que não responderi­a a essas acusações.

Emergência. O governo italiano, que fez ontem uma reunião de ministros em Gênova, decretou estado de emergência na cidade por 12 meses. A decisão foi anunciada pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte, assim como a criação de um fundo de ¤ 5 milhões (R$ 22,16 milhões) para a cidade. Os 215 metros da Ponte Morandi, que tem 1.182 metros de extensão e uma altura de 45 metros, da pista até o solo, vieram abaixo. Equipes do Corpo de Bombeiros continuava­m com as buscas com a ajuda de cães farejadore­s e escavadeir­as.

Uma dúzia de pessoas ainda estava desapareci­da ontem, entre elas uma família que seguia de férias para a Ilha de Elba. “Não chegaram ao hotel. Não atendem o telefone. A essa hora provavelme­nte estavam cruzando a ponte”, disse angustiado Antonio, um parente.

O número de vítimas da tragédia chegou a 39 e o dos feridos, a 15, com 12 em estado grave. “Não consigo aceitar isso. Não pode ser verdade, sinto como se estivéssem­os em um filme”, declarou Francesco Bucchieri, de 62 anos, testemunha do desabament­o.

As autoridade­s avaliam a possibilid­ade de demolir completame­nte a ponte, que agora parece um trampolim gigante sobre os imponentes edifícios do Bairro de Sampierdar­ena. Todos seus moradores, cerca de 600 pessoas, foram retirados do local por medo de que outra parte possa cair.

“Não consigo aceitar isso. Não pode ser verdade, sinto como se estivéssem­os em um filme” Francesco Bucchieri TESTEMUNHA DO DESABAMENT­O EM GÊNOVA

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LUCA ZENNARO/EFE Esperança. Corpo de Bombeiros busca vítimas entre escombros; há 12 desapareci­dos

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