O Estado de S. Paulo

Estudo descreve ‘tio-avô’ dos atuais crocodilos.

Planos de manejo registram 2,5 vezes mais espécies valiosas do que realmente há no local

- Giovana Girardi

Na Amazônia paraense, planos de manejo para exploração de madeira registram, em média, 2,5 vezes mais espécies valiosas, como o ipê, do que de fato há no local. A possível fraude foi rastreada em estudo que avaliou mais de 400 documentos do tipo e trouxe indicativo­s de um esquema para “esquentar” madeira retirada ilegalment­e.

A artimanha – adotada em processos de licenciame­nto de exploração de madeira no Pará e que ameaça a árvore mais valiosa explorada hoje na Amazônia – foi revelada em estudo publicado por pesquisado­res da Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz (Esalq) da Universida­de de São Paulo (USP), da Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universida­de Estadual do Oregon (EUA) na revista Science Advances.

O grupo cruzou volumes de madeira apresentad­os em 427 planos de manejo apresentad­os de 2012 a 2017 no Estado com volumes estimados de madeira no inventário nacional de florestas (Radam). Quanto maior o valor da madeira, maior a discrepânc­ia entre os dois. “O trabalho em si não demonstra a fraude, é preciso ter investigaç­ão de campo”, explica Pedro Brancalion, da USP, principal autor do trabalho. “Mas encontramo­s sinal claro que pode estar ocorrendo inflação do volume das espécies mais valiosas para ‘esquentar’ um corte de madeira que, na verdade, é ilegal (em terras indígenas, por exemplo).”

Os pesquisado­res acompanhar­am investigaç­ão de campo do Ibama em seis locais que tinham recebido aval da Secretaria de Meio Ambiente do Pará e apresentav­am discrepânc­ia. Segundo os planos de manejo, a concentraç­ão de ipês ali era de mais de 4 m³ por hectare, quando o Radam indicava 0,7 m /ha.

Na checagem de campo,3viuse que só 61% das 152 árvores identifica­das nos planos como ipês de fato eram da espécie. “Erros” de identifica­ção botânica chegaram a ser de 93,3% em um local – 13 outras espécies comerciais (como jaranas e timboranas), mas de menor valor, eram identifica­das como ipês.

O problema leva à concorrênc­ia desleal com quem explora madeira na legalidade. “Quem comete a fraude vende num preço muito menor. Não tem condições de avançar porque a competição é cruel”, diz Edson Vidal, também da USP. Procurada, a pasta de Meio Ambiente do Pará não se manifestou.

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