O Estado de S. Paulo

MP dos EUA pede dez anos de prisão e multa de R$ 26 milhões para Marin

Sentença será anunciada dia 22; advogados do ex-presidente da CBF alegam que ele já pagou sua pena diante de sua idade avançada e saúde frágil

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA Thiago Mattos ESPECIAL PARA O ESTADO NOVA YORK

O Ministério Público dos Estados Unidos pediu uma pena de dez anos de prisão e multa de pelo menos R$ 26 milhões (US$ 6,6 milhões) para José Maria Marin, condenado no fim de 2017 por corrupção por um tribunal em Nova York. Sua sentença será anunciada no dia 22 pela juíza Pamela Chan. Pelas leis americanas, a sentença pode alcançar 24 anos de prisão.

“O réu subestima dramaticam­ente a seriedade de seus crimes e a necessidad­e de promover o respeito pela lei”, informa o documento de quase 50 páginas entregue à Corte pelos procurador­es. A defesa de Marin havia solicitado sentença muito abaixo das diretrizes da lei americana ao afirmar que sua culpa foi exagerada e que seus 86 anos de idade e saúde (segundo a defesa, prejudicad­a) justificam extrema clemência.

Além disso, seus advogados avaliam que o ex-presidente da CBF já cumpriu sua sentença, diante das condições em que esteve

desde 2015, quando foi preso em Zurique e depois em prisão domiciliar nos EUA. Para a defesa, os três anos “completame­nte satisfazem os interesses” de punir a corrupção. Um dos motivos para o argumento seria de que seu caso teria sido amplamente divulgado pela imprensa, o fato de ele ter um histórico de “serviços públicos” e até de não falar inglês.

A promotoria concorda que sua idade e saúde devem ser levadas em conta e reduziu o pedido

de prisão de 24 anos para dez. Mas, ainda assim, a punição precisa ser exemplar.

Os promotores estimam que ele permaneceu preso por 13 meses até hoje. “Por exemplo, nos três anos anteriores à sua prisão, viajou pelo mundo (para eventos relacionad­os ao futebol ou não), incluindo viagens para Brasil, Nova York, Londres, Miami, Suíça, Argentina, Las Vegas, Paris, Budapeste, Suécia, Tóquio e Paraguai.”

Ainda segundo a Procurador­ia,

Marin e outros cartolas confiaram no sistema financeiro dos EUA para “corromper o jogo que deveriam proteger, fraudando as instituiçõ­es em centenas de milhões de dólares que deveriam ter ido para essas organizaçõ­es, para ser gastos em coisas como desenvolvi­mento e liga de mulheres e jovens”.

Para os procurador­es, uma sentença não pode permitir que um criminoso aproveite os frutos de seus crimes “até que ele se considere velho demais para pagar as consequênc­ias”. “É imperativo que a sentença mostre claramente que tal conduta encontrará uma punição significat­iva. Só assim ela impedirá que outros dirigentes que governam o futebol causem dano às organizaçõ­es (esportivas).”

Segundo os procurador­es, Marin recebeu propinas anuais de milhões de dólares por direitos de marketing e imagens para torneios da Copa do Brasil, Copa América e Libertador­es, e a maior parte dessa propina está na conta de sua empresa fantasma aberta no banco de investimen­tos Morgan Stanley, em Nova York. A procurador­ia afirma que ele abusou de seu poder como presidente da CBF e recebeu mais de US$ 3,3 milhões (R$ 12,9 milhões) em propinas e concordou em receber aproximada­mente outros US$ 7 milhões (R$ 27,3 milhões) a mais.

O caso ainda envolve milhões de dólares e os procurador­es insistem que o brasileiro também deve pagar uma “multa substancia­l”, que seria duas vezes o valor recebido em propinas. No total, portanto, ele pagaria US$ 6,6 milhões. Para os advogados de Marin, a multa máxima não pode passar de US$ 2 milhões (R$ 7,8 milhões).

 ?? LUCAS JACKSON/REUTERS-3/11/2015 ?? Reta final. Pouco mais de três anos após explodir o escândalo de corrupção no futebol, Marin, já condenado, está prestes a saber qual será a sua pena
LUCAS JACKSON/REUTERS-3/11/2015 Reta final. Pouco mais de três anos após explodir o escândalo de corrupção no futebol, Marin, já condenado, está prestes a saber qual será a sua pena

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