Prévia do PIB cai 0,99% no trimestre
Greve dos caminhoneiros teve forte impacto na economia, mas dados mostram recuperação em junho, com alta de 3,29% no indicador em relação a maio
Castigada pela greve dos caminhoneiros no fim de maio, a economia brasileira fechou o segundo trimestre do ano em retração. O Índice de Atividade do Banco Central (IBC-Br), divulgado ontem, recuou 0,99% no período, depois de ter avançado 0,20% no primeiro trimestre do ano. Foi o pior resultado trimestral desde os primeiros três meses de 2016, quando o indicador havia cedido 1,51%.
Na esteira do resultado, alguns analistas já projetam crescimento menor para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2018. A agência de classificação de risco Austin Rating revisou sua projeção de 1,8% para 1,1%, mesma projeção com que trabalham os economistas do Bradesco. A mediana de 25 previsões colhidas pelo Projeções Broadcast aponta crescimento de 1,5%. O governo trabalha com crescimento de 1,6%.
Ainda que as expectativas não sejam expressivas, cessam a percepção que se criou após a greve dos caminhoneiros no fim de maio de que os efeitos seriam ainda mais nocivos, apontam analistas. Contudo, ponderam que as influências de segunda ordem da paralisação tendem a se perdurar, mas não a ponto de extinguir as estimativas de alta do PIB em 2018.
Conhecido como “prévia do BC” para o PIB, o IBC-Br serve mais precisamente como parâmetro para avaliação do ritmo da economia brasileira. Os dados do IBC-Br dizem respeito à série com ajustes sazonais, que permite a comparação entre diferentes trimestres do ano. O IBGE divulgará o PIB do segundo trimestre no dia 31 de agosto.
Os números mostram uma recuperação consistente pós a greve dos caminhoneiros, que prejudicou a atividade em diferentes setores da economia, em todo o País. Tanto que, depois de ter despencado 3,28% em maio, o IBC-Br registrou alta de 3,29% em junho. Na comparação entre junho deste ano e o mesmo mês do ano passado, a expansão foi de 1,82%.
Ainda assim, o resultado mensal não foi suficiente para evitar, nas estatísticas, o resultado negativo do segundo trimestre, nem para melhorar, entre os analistas, as perspectivas para o PIB em 2018.
“Certamente, há o efeito da greve dos caminhoneiros, mas antes mesmo da paralisação a atividade já estava desacelerando”, pontuou o economistachefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. “A greve se somou ao que vinha acontecendo. O desempenho do mercado de trabalho a partir de abril é uma amostra. Algumas empresas começaram a contratar, mas o emprego ainda está ruim”, afirma.
De acordo com Gonçalves, mesmo que haja recuperação no terceiro trimestre, o PIB tende a fechar 2018 perto de 1%. O porcentual chega a ser frustrante, já que no fim de 2017 algumas instituições financeiras chegavam a citar um PIB próximo de 3% este ano. No acumulado do primeiro semestre de 2018, o IBC-Br registrou alta de 0,89% ante os primeiros seis meses de 2017.
“(A economia) perdeu força de forma mais significativa a partir de março com o ajuste no cenário internacional, especificamente devido ao ajuste monetário na taxa de juros dos EUA, bem como à postura protecionista de Donald Trump”, pontuou a Austin em relatório. A greve dos caminhoneiros, na visão da agência, foi outro fator que pesou sobre a confiança dos agentes econômicos e sobre os investimentos.
Eleição. Não bastassem as turbulências externas e a greve dos caminhoneiros, a economia brasileira também sofre influência da eleição. “A velocidade do crescimento está prejudicada. A eleição pode aliviar um pouco isso e criar um ambiente mais favorável, mas somente mais para o fim do ano e início de 2019”, avalia o economista Rodrigo Soares, da Caixa Asset Management, ao se referir à possibilidade de vitória de um candidato que dê continuidade à agenda de reformas. /
“A greve se somou ao que vinha acontecendo. O desempenho do mercado de trabalho a partir de abril é uma amostra. Algumas empresas começaram a contratar, mas o emprego ainda está ruim.” José Francisco Gonçalves
ECONOMISTA-CHEFE DO BANCO FATOR