O Estado de S. Paulo

Candidatur­a feminina não cresce, apesar de incentivo

Gênero. Apesar da cota de 30% do dinheiro do fundo eleitoral para as campanhas femininas este ano, o número de candidatas nas eleições praticamen­te não se altera em relação a 2014

- Luiz Fernando Toledo Luiz Raatz

Dados do TSE mostram que o número de candidatas nas eleições deste ano praticamen­te não se alterou ante 2014. Há, em 2018, 8,3 mil mulheres na disputa, ou 30,64% do total de candidatos. Em 2014, eram 8,1 mil (31,1%). Os números ainda serão consolidad­os pelo TSE, mas podem apontar que causou pouco impacto a determinaç­ão da Corte para que sejam reservados 30% do fundo eleitoral e do tempo de propaganda às candidatas.

Maioria do eleitorado brasileiro, as mulheres continuam representa­ndo uma parcela minoritári­a nas eleições. Mesmo com uma reserva específica de recursos para as campanhas deste ano, o número de candidatas praticamen­te não se alterou e a proporção oscilou negativame­nte em relação a 2014. Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que há, em 2018, 8,3 mil candidatas, o que representa 30,64% do total. Em 2014, eram 8,1 mil, ou 31,1% de todas as candidatur­as. Os números ainda serão consolidad­os pelo TSE até segunda-feira, mas a tendência deve se manter.

As estatístic­as indicam que houve pouco impacto na alteração determinad­a pelo TSE neste ano, de reservar uma fatia de 30% do fundo eleitoral (maior parcela de valores destinado para as campanhas eleitorais – R$ 1,7 bilhão – e formado por recursos públicos) e do tempo de propaganda para as candidatas na disputa proporcion­al. Um levantamen­to feito pelo

Estadão Dados apontou que elas terão 140% mais recursos do que tiveram há quatro anos – em 2014, as legendas repassaram, em média, 12,5% dos recursos disponívei­s para suas candidatas a deputado federal e estadual.

Ainda assim, a expectativ­a entre analistas políticos é que haja um aumento no número de mulheres eleitas. Antes dessa regra, só havia a definição de que 30% das candidatur­as dos partidos deveriam ser preenchida­s por mulheres, mas o resultado destas eleições mostrou fortes indícios de que as siglas faziam uso de candidatas laranja, que não concorriam de verdade.

Nas eleições de 2016, por exemplo, o TSE identifico­u 16 mil candidatos sem voto – 14,4 mil deles eram mulheres. Um levantamen­to do Movimento Transparên­cia Partidária entre os eleitos nas disputas gerais e municipais de 2008 a 2016 também aponta tendência semelhante. Em 2008, antes da reserva de vagas, 9,5% das candidatas conseguira­m se eleger. O índice foi para 5,3% em 2010 e 6,1% em 2012. A proporção caiu para 2,7% em 2014 e, em 2016, foi de 5,7%.

Recursos. Pesquisado­res das relações entre gênero e política partidária avaliam que neste ano o maior acesso a recursos de campanha deve influir no sucesso eleitoral de mulheres. “Quando a gente coloca cotas para partidos políticos usarem mulheres, a tendência é esses partidos usarem o mínimo”, disse Hannah Maruci, pesquisado­ra do Grupo de Estudos de Gênero e Política da Universida­de de São Paulo (USP). “Agora a gente trata de dinheiro para campanha. Então a expectativ­a é que aumente o número de eleitas, principalm­ente no Legislativ­o.”

A analista faz uma ressalva, no entanto, sobre o uso das verbas do fundo eleitoral destinadas às candidatur­as femininas pelas legendas. A decisão do TSE, na prática, reservou R$ 515 milhões da reserva de recursos públicos para candidatas em 2018. No entanto, não necessaria­mente a verba será usada de maneira equânime para as candidatas e não está claro como os partidos podem repartir esses recursos. “Alguns partidos não têm claro que destino darão a esse dinheiro.”

Marilda Silveira, diretora do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral, concorda com a avaliação de Hannah. “Dirigentes são homens e as mulheres sofreram ao longo dos anos com a redução de sua participaç­ão civil”, disse. “Existe uma expectativ­a de aumento, mas não no Legislativ­o.”

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EPITACIO PESSOA/ESTADÃO PMN. Adiene Brenga é candidata a deputado estadual
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