O Estado de S. Paulo

Trump ataca editoriais de imprensa livre

Presidente chama meios críticos de ‘partido de oposição’, após jornais publicarem textos em que defendem sua missão de monitorar governo

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O presidente americano Donald Trump usou ontem o Twitter para classifica­r a mídia dos EUA como “partido de oposição”, após mais de 350 jornais do país publicarem editoriais em defesa da liberdade de imprensa.

O presidente americano, Donald Trump, qualificou a mídia americana de “partido de oposição”, após mais de 350 jornais americanos publicarem editoriais em suas edições de ontem defendendo a liberdade de imprensa. A iniciativa da imprensa foi uma resposta a Trump, que qualificou algumas organizaçõ­es jornalísti­cas de “inimigas do povo americano”.

O republican­o reagiu à ação com um tuíte ontem: “A imprensa das fake news (notícias falsas) é o partido de oposição. É muito ruim para o nosso grande país... Mas estamos ganhando.”

O Boston Globe liderou o movimento, seguido pelo New York Times e diversos jornais, incluindo alguns em Estados onde Trump saiu vencedor nas eleições de 2016. O conselho editorial do Boston Globe publicou um artigo acusando Trump de conduzir um “continuado ataque à imprensa livre”. “A grandiosid­ade dos EUA depende do papel de uma imprensa livre para falar a verdade aos poderosos”, diz o texto. “Afirmar que a imprensa é ‘inimiga do povo’ não é americano e é perigoso para o pacto cívico que compartilh­amos por mais de dois séculos.”

Ao tratar os veículos de comunicaçã­o muitas vezes como um partido de oposição, Trump respondeu às reportagen­s críticas à ele como fake news. Em fevereiro de 2017, ele escreveu no Twitter: “A imprensa das fake news (...) não é minha inimiga, é inimiga do povo americano”.

Os editoriais seguem uma linha crítica ao presidente Trump, parecida à feita por diversas figuras públicas sobre o tratamento que ele dá à questão da liberdade de imprensa. Em janeiro, o senador republican­o Jeff Flake, do Arizona, disse que o magnata havia adotado a linguagem opressiva do ex-ditador soviético Josef Stalin.

O New York Times publicou em seu editorial um pedido de ajuda aos americanos para defender a liberdade de imprensa contra os ataques de Trump. “A imprensa livre precisa de você”, diz o título.

O texto começa com uma referência histórica. Em 1787, quando a Constituiç­ão dos EUA foi adotada, Thomas Jefferson escreveu a um amigo: “Se tivesse de decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, não hesitaria em preferir o segundo”. O editorial cita outra passagem da época de Jefferson. Vinte anos após suportar a supervisão da imprensa de dentro da Casa Branca, o ex-presidente estava menos seguro do valor do jornalismo. “Agora não se pode acreditar em nada do que se vê nos jornais”, escreveu um dos “pais fundadores” do país. O Senado adotou ontem uma resolução declarando apoio à liberdade de imprensa e afirmando que “a imprensa não é inimiga do povo”.

“A imprensa das fake news (notícias falsas) é o partido de oposição. É muito ruim para o nosso grande país... Mas estamos ganhando” Donald Trump

PRESIDENTE DOS EUA

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ERIC BARADAT/AFP ‘Jornalista­s não são o inimigo’. ‘Boston Globe’ liderou campanha com editoriais e foi seguido pelo ‘New York Times’

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