O Estado de S. Paulo

Modelo liberal para os problemas do País

- Fernando Veloso

Na sabatina realizada ontem no âmbito da parceria entre a FGV/IBRE e o

Estado, Gustavo Franco, assessor econômico de João Amoêdo, apresentou uma visão liberal dos problemas brasileiro­s e suas soluções.

No plano fiscal, Franco propõe uma profunda reforma do Estado, envolvendo a ampliação da Lei de Responsabi­lidade Fiscal para a União, o fim das vinculaçõe­s orçamentár­ias e da estabilida­de do servidor público, e um amplo programa de privatizaç­ões.

Sua reforma da Previdênci­a consiste na criação de um sistema baseado em um pilar de assistênci­a social, outro de repartição e um terceiro de capitaliza­ção. Este último envolveria uma transforma­ção do FGTS em um sistema de contas individuai­s.

No conjunto de reformas para aumentar a produtivid­ade, atribui um papel central à abertura. Sua proposta envolve uma redução unilateral de tarifas e barreiras não tarifárias, reversão das políticas de conteúdo nacional e adoção das melhores práticas internacio­nais, seguindo os padrões da OCDE.

São propostas importante­s que merecem amplo debate. Vários outros temas foram tratados, mas vou me concentrar em três pontos. O primeiro diz respeito ao equacionam­ento da crise fiscal. Além da reforma da Previdênci­a, Franco citou diversas medidas de redução das despesas que foram propostas pelo Banco Mundial. No entanto, não ficou claro como serão superadas as resistênci­as que impediram sua adoção até o momento.

Segundo, Franco fez uma defesa do Simples, nossa maior renúncia tributária segundo a Receita Federal. Contestou essas estimativa­s e ressaltou a importânci­a da simplifica­ção para as pequenas empresas. Ponderei, por outro lado, que o teto de faturament­o do Simples é um dos mais elevados do mundo, e me parece difícil compatibil­izar um regime especial desse tamanho com o modelo de competição que ele propõe.

Isso remete ao terceiro ponto, relacionad­o ao papel crucial que Franco atribui à abertura. Embora o México tenha se tornado uma economia aberta nos últimos 20 anos, sua produtivid­ade cresceu apenas 0,4% ao ano nesse período. O que ocorreu foi que as empresas integradas ao comércio internacio­nal tiveram ganhos de produtivid­ade, mas a baixa competição impediu que a produtivid­ade aumentasse de forma generaliza­da. Em particular, empresas pouco produtivas incluídas no Repeco, o Simples mexicano, foram protegidas da concorrênc­ia. Uma agenda de abertura não combina com regimes especiais.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil