Vaticano manifesta vergonha em caso de padres pedófilos
Santa Sé considera que abusos descritos no relatório da promotoria da Pensilvânia são 'criminosos e reprováveis'
O Vaticano se manifestou ontem reagindo com “vergonha e dor” à investigação dos abusos sexuais praticados por mais de 300 padres na Pensilvânia, e assegurou que o papa Francisco está do lado das vítimas.
“As vítimas devem saber que o papa está do seu lado. Aqueles que sofreram são sua prioridade, e a Igreja quer ouvi-los para erradicar esse trágico horror que destrói a vida dos inocentes”, declarou a Santa Sé em um comunicado.
Um relatório do grande júri da Pensilvânia, publicado na terça-feira, revelou abusos sexuais praticados por mais de 300 “padres predadores” e seu acobertamento pela Igreja Católica nesse Estado, onde pelo menos mil meninos e meninas foram vítimas de abusos sexuais durante 70 anos.
A declaração veio horas depois que os bispos dos EUA pediram uma investigação liderada pelo Vaticano e apoiada por investigadores leigos, nas alegações de abuso sexual pelo ex-cardeal de Washington, Theodore McCarrick. Uma das principais figuras da Igreja americana, McCarrick renunciou em julho. Católicos nos EUA pressioam pela renúncia do cardel Donald Wuerl, arcebispo de Washington, acusado de abusos.
Não é a primeira vez que um júri popular americano publica um relatório revelando escândalos de pedofilia dentro da Igreja Católica americana, mas nunca tantos casos haviam sido revelados de uma vez.
“Padres violentaram meninos e meninas, e os homens da Igreja que eram seus responsáveis não fizeram nada. Durante décadas”, escreveram os membros do júri no relatório publicado na terça-feira. O Vaticano reagiu afirmando levar “muito a sério” o relatório e assegurou que “duas palavras podem expressar o que se sente diante destes crimes horríveis: vergonha e dor”.
“Os abusos descritos no relatório são criminosos e moralmente reprováveis. Esses atos traíram a confiança e roubaram das vítimas sua dignidade e sua fé”, diz o comunicado.
A Santa Sé lembra que a maior parte dos casos mencionados é anterior ao começo dos anos 2000, quando a revelação de vários escândalos levou a Igreja americana a realizar uma série de “reformas”. Acredita-se que o relatório seja o mais abrangente até hoje sobre abusos cometidos dentro da Igreja americana desde 2002, quando o jornal The Boston Globe expôs os sacerdotes pedófilos. A investigação realizada pelo grande júri em quase todas as dioceses da Pensilvânia (exceto duas) levou dois anos e resultou em dezenas de testemunho. Mais de mil menores vítimas destes abusos foram identificados, mas o “número real” estaria na casa “dos milhares”, estimou o grande júri.