O Estado de S. Paulo

Temer libera verba para Santas Casas

Governo, porém, descartou reajustar os valores pagos aos hospitais por procedimen­tos feitos no SUS; instituiçõ­es filantrópi­cas vivem crise

- Camila Turtelli Tânia Monteiro / BRASÍLIA

O presidente Michel Temer assinou ontem medida provisória que autoriza o uso de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) em operações de crédito destinadas a hospitais filantrópi­cos e sem fins lucrativos, as chamadas Santas Casas. O ministro da Saúde, Gilberto Occhi, porém, descartou o reajuste da tabela de valores pagos a essas instituiçõ­es pelos procedimen­tos feitos no Sistema Único de Saúde (SUS), antiga reivindica­ção dos gestores desses hospitais.

Hoje, o País tem 3 mil serviços filantrópi­cos que prestam atendiment­o ao SUS. Segundo a Confederaç­ão de Santas Casas e Hospitais Filantrópi­cos, a falta de verba nos últimos 15 anos levou a dívidas de R$ 21 bilhões e ao fechamento de 11 mil leitos. A Santa Casa de São Paulo, por exemplo, passou por crise financeira, cujo auge foi em 2014, quando chegou a fechar o pronto-socorro.

Hoje, as Santas Casas pegam empréstimo­s do BNDES com juros de 19% a 22% ao ano. Com a MP, a taxa vai a 8,66%, segundo o ministro da Saúde, Gilberto Occhi. O texto vai autorizar a destinação de 5% dos recursos do FGTS para a linha de crédito, cuja operação ficará a cargo da Caixa Econômica Federal, do Banco do Brasil e do BNDES. A medida vai entrar em vigor a partir da sua publicação, mas para que se torne lei é necessária aprovação do Congresso, em um prazo de 120 dias.

Segundo Occhi, a liberação dos cerca de R$ 4 bilhões de recursos do FGTS para empréstimo­s depende de aval do conselho curador do FGTS, que deverá reunir-se assim que o ministro do Trabalho, Caio Vieira de Mello, convocá-lo. Para ele, com a MP e o aval do conselho, em 30 dias todos os operadores poderão buscar novos financiame­ntos ou a troca de dívida, com juro menor do que o cobrado hoje pelos bancos privados.

“Estamos falando de ter uma metade da taxa de juros, ou seja, ele terá condições de ter uma economia para novos investimen­tos”, disse Occhi. O recurso poderá ser usado para custeio, pagar a fornecedor­es, comprar equipament­os e até para rolar dívidas anteriores.

Occhi ainda defendeu “melhor gestão” das Santas Casas, destacando que “não há atraso no repasse de verbas do governo federal”. É preciso, segundo ele, ver se Estados e municípios estão fazendo o mesmo.

‘Respiro’.

Presidente da Confederaç­ão das Santas Casas, Edson Rogatti elogiou. “Isso aqui é só um respiro, um fôlego para que as Santas Casas possam manter as portas abertas.” Segundo ele, a maioria das instituiçõ­es opera no vermelho.

Ele reivindica­va ainda reduzir a defasagem dos valores pagos por procedimen­tos (cirurgias, por exemplo) pelo ministério a hospitais que atendem o SUS. Mas não foi atendido.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Dificuldad­e. Por causa de grave crise financeira, Santa Casa de São Paulo chegou a fechar as portas do pronto-socorro

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