O Estado de S. Paulo

Melancolia e introspecç­ão

Gustavo Bertoni, da banda Scalene, lança novo álbum

- Pedro Antunes

Aquelas 80 pessoas, lotação máxima do Planetário de Brasília, no festival CoMA, não era um número expressivo como as 80 mil que estavam diante do Palco Mundo, o principal do Rock in Rio, na edição passada do festival. Ainda assim, o brasiliens­e Gustavo Bertoni, de 24 anos, sentia a ansiedade escorrer pelas palmas das mãos. Não teria, daquela vez, os outros integrante­s do Scalene, banda com a qual ele tem vivido os mais intensos e loucos anos – e também toda a sua vida adulta. Nos últimos três anos, ele tem circulado pelo País, fez sucesso no reality show da TV Globo (o grupo disputou e ficou em segundo lugar no programa Superstar), lançou discos e EPs, colaboraçõ­es e inéditas.

Ali, era ele e seu violão – e Samyr Aissami, amigo e músico que acompanha o Scalene e quem tocou percussão no novo registro solo de Gustavo. Tratava-se de uma espécie de pré-lançamento de Where Lights Pours In, o segundo álbum do vocalista do Scalene (a estreia foi The Pilgrim, de 2015, pouco antes da loucura boa tomar conta da carreira da banda de Brasília). Desta vez, Gustavo tratará o álbum como se deve, explica ele, com trabalho de divulgação, shows, singles e clipes. Daí vem o nervosismo.

Embora não pareça, já que o mesmo Gustavo encarou aquela multidão do Rock in Rio, aquela apresentaç­ão realizada no último sábado, 11, no Planetário cidade na qual nasceu, teve um gostinho de estreia para o músico.

“Não ficava tão nervoso assim desde o Rock in Rio”, admitiu Gustavo, ao microfone, antes de receber suspiros de “own” por parte dos presentes. Depois, em um escritório transforma­do em camarim, o músico explica ao Estado que mais do que “nervosismo”, sentiu foi uma “ansiedade enorme”. “É muito tempo de trabalho até chegar aqui”, ele diz.

E se o Scalene tem o poderio do coletivo nas suas composiçõe­s em português, o Gustavo Bertoni solo é a força do gogó dele com letras em inglês aliada ao violão melancólic­o de influência­s que vão de Simon & Garfunkel a Sufjan Stevens (o herói indie que não ganhou, mas merecia, o Oscar pela canção-tema de Me Chame Pelo Seu Nome).

Mais intimista, mais minimalist­a, mais próximo. Esse é Where

Light Pours In, um trabalho no qual Gustavo abre a porta de si mesmo – importante dizer que o Scalene segue firme e bem. Revisitou as mudanças que viveu nos últimos três anos com a banda, examinou erros e acertos e entrega muito de si. Be Here Now é um exemplo dessa entrega. O single, lançado duas semanas atrás, trata desse sentimento agridoce, de vitórias e derrotas e, principalm­ente, de entender quem se é hoje. O resultado foi tão bom que a canção entrou na lista de 50 sucessos virais do Spotify mundial – ouviu isso, Anitta? E Gustavo está pronto para entender essa nova fase. “Nos últimos três anos, eu lancei 54 músicas se somarmos esse disco. São 18 canções por ano!”, ele diz, somando o trabalho solo, com a banda e as colaboraçõ­es com outros grupos. “Foi bom parar, respirar, refletir sobre o que aconteceu. Coloquei meu ego de lado e mergulhei nisso.”

 ?? PEDRO PINHO ?? No íntimo. Gustavo Bertoni revisitou as mudanças da sua vida nos últimos três anos
PEDRO PINHO No íntimo. Gustavo Bertoni revisitou as mudanças da sua vida nos últimos três anos
 ??  ?? GUSTAVO BERTONI ‘Where Light Pours In’ Slap; R$ 26,90 (e plataforma­s digitais)
GUSTAVO BERTONI ‘Where Light Pours In’ Slap; R$ 26,90 (e plataforma­s digitais)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil