O Estado de S. Paulo

3 milhões buscam vaga há mais de 2 anos

País também atingiu o número recorde de 4,8 milhões de pessoas que desistiram de procurar emprego, segundo pesquisa do IBGE

- Daniela Amorim / RIO

Por trás da aparente melhora da taxa de desemprego no segundo trimestre, que caiu para 12,4%, está uma situação alarmante. Pesquisa do IBGE divulgada ontem mostra que o País atingiu um número recorde de 4,8 milhões de pessoas que desistiram de procurar trabalho. A taxa de desemprego caiu, em grande parte, porque milhares de pessoas que gostariam e estariam disponívei­s para trabalhar pararam de buscar uma vaga por acreditar que não conseguiri­am uma ocupação – os chamados desalentad­os. O levantamen­to aponta outro recorde: 3,1 milhões de pessoas já estão há mais de dois anos à procura de emprego.

“Quanto mais tempo a pessoa busca emprego maior a chance de migrar paro desalento”, diz Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE. Em apenas um trimestre, 202 mil pessoas a mais passaram a essa condição. Em um ano, a precarieda­de do mercado de trabalho levou ao desalento mais 838 mil indivíduos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).

“Estamos num momento de elevada incerteza, o que significa que a retomada (da economia) existe, mas fica contida, aquém do que se esperava”, diz José Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconô­micas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Isso obviamente segura a retomada, com consequênc­ias sobre o emprego.”

Ao todo, faltou trabalho no Brasil para 27,6 milhões de brasileiro­s. Além dos inativos com potencial para voltar ao mercado, havia ainda quase 13 milhões de desemprega­dos e outros 6,5 milhões de pessoas trabalhand­o menos tempo por semana do que gostariam.

“A condição extremamen­te severa do mercado de trabalho deve ser prioridade para o próximo governo, porque tem relação direta com uma série de outras questões, como o bem-estar, a criminalid­ade. É preciso discutir como fazer a economia crescer e como inserir essas pessoas no emprego”, diz Thiago Xavier, analista da Tendências Consultori­a Integrada. “O desafio para o próximo governo vai ser dar confiança aos empresário­s não só para fazer investimen­tos, mas para contratar”, completou Souza Júnior.

No segundo trimestre, o desalento atingiu o ápice em 11 estados, entre eles São Paulo, com quase meio milhão de habitantes nessa situação.

“A probabilid­ade de uma pessoa desistir de procurar emprego está muito relacionad­a ao tempo que ela ficou procurando emprego. E algumas nem para a fila do desemprego vão”, explica Cimar Azeredo.

Segundo ele, a dificuldad­e de outros integrante­s da família para conseguir uma vaga ou notícias na mídia sobre o desemprego influencia­m a percepção das pessoas sobre a dificuldad­e de encontrar um trabalho, por isso desistem de procurar. Desde o início da crise, em 2014, o número de pessoas procurando trabalho há pelo menos dois anos cresceu 162%. No segundo trimestre, o País alcançou o ápice de 3,162 milhões de trabalhado­res em busca de um emprego há dois anos ou mais.

O próximo governo terá de lidar ainda com outras questões negativas no mercado de trabalho. No segundo trimestre, o nível de ocupação, que mostra a proporção de pessoas trabalhand­o entre aquelas em idade para trabalhar, estava no menor patamar da série histórica em sete Estados brasileiro­s: Rondônia, Amazonas, Amapá, Maranhão, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Sul. Na média nacional, o nível de ocupação ficou em 53,7%.

“Em nenhum estado do Nordeste a população ocupada chega a 50% da população em idade de trabalhar. É consequênc­ia do desenvolvi­mento econômico local. Isso vai se refletir em pobreza, em desemprego”, observou Azeredo. O total de empregados com carteira assinada no setor privado caiu ao menor nível da série, no segundo trimestre, no Rio e em São Paulo. “O que acontece nesses Estados acontece depois nos outros.”

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LEO MARTINS/ESTADAO-16/8/2018 Recorde negativo. No 2º trimestre do ano, o País registrou 4,833 milhões de desalentad­os
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