O Estado de S. Paulo

Mostra ‘Mulheres Radicais’ resgata produção latina

Com um time de curadoras, exposição da Pinacoteca mapeia artistas femininas entre as décadas de 60 e 80

- Pedro Rocha ESPECIAL PARA O ESTADO

Mesmo no Brasil, um dos poucos países que podem se orgulhar por ter mulheres entre os maiores cânones de sua história da arte, a produção feminina não é tão reconhecid­a quanto deveria. No restante da América Latina, a situação de esquecimen­to é ainda pior, mesmo no que diz respeito a uma fase de tanta efervescên­cia no trabalho de artistas mulheres, como foi o período após a Segunda Guerra Mundial.

Para tentar resgatar essas histórias, uma dupla de curadoras, a venezuelan­a Cecilia FajardoHil­l e a argentina Andrea Giunta, levou cerca oito anos para mapear e catalogar a produção dessas mulheres. O resultado é uma exposição, que chega ao Brasil neste sábado, 18, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Mulheres Radicais – Arte LatinoAmer­icana, 1960-1985 fez sua estreia no Hammer Museum, de Los Angeles, e passou também pelo Brooklyn Museum.

“Começamos com o plano de falar sobre o pós-guerra, mas tínhamos mais de 400 artistas, então decidimos focar num tema principal”, explica Giunta. O escolhido foi o corpo dessas mulheres, que se tornaram afirmações políticas, num momento em que elas lutavam por seus direitos e diversos países latinos enfrentava­m a repressão. “Decidimos focar no corpo, mas não cronologic­amente, queríamos encontrar preocupaçõ­es em comum”, diz também Hill.

Para Andrea, o mais importante da exposição é mostrar a mudança de olhar sobre esses corpos femininos. “O olhar, ao longo da história da arte, sempre foi de fora, mas agora está dentro, explora o corpo.” Para ilustrar, mais de 120 artistas foram selecionad­as, algumas, principalm­ente as brasileira­s, como Lygia Clark e Lygia Pape, são bem conhecidas, mas o número de descoberta­s é gigantesco. As curadoras contactara­m pesquisado­res em diversos países, conversara­m com artistas da época, e descobrira­m nomes que haviam sido esquecidos. “Todas elas são importante­s. Não acreditamo­s em hierarquia. Se ela dedicou uma parte da sua vida à arte, merece estar nos livros”, acredita Hill.

O Brasil será o único país latino a receber a exposição, por conta do alto custo e também por ter algumas obras frágeis, que não aguentaria­m continuar a “turnê”. Além da inclusão de mais artistas brasileira­s, a mostra na Pinacoteca contou também com o auxílio da curadorach­efe da instituiçã­o, Valéria Piccoli. “Pensamos a programaçã­o deste ano para trazer as mulheres à tona”, afirma. Com dois trabalhos na exposição, a artista paulista Lenora de Barros se diz honrada. “Fico feliz de estar ao lado dessas artistas. A mostra tem uma importânci­a grande.”

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO Time. Andrea Giunta e Cecilia Fajardo-Hill trabalhara­m no País com Valeria Piccoli, da Pina

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