O Estado de S. Paulo

Insônia afeta seis em cada dez mulheres na menopausa.

Seis em cada 10 relatam problema, segundo Instituto do Sono, que encontrou bons resultados com adoção de ioga, meditação e massagem

- Fabiana Cambricoli

Desde a chegada da menopausa, a empregada doméstica Maria Vanda Cavalvante Silva, de 51 anos, não sabia mais o que era uma noite bem dormida. Com as intensas ondas de calor, a paulistana acordava a cada meia hora com malestar e tinha dificuldad­es para pegar no sono novamente.

Após meses de martírio, Maria Vanda procurou uma ginecologi­sta especializ­ada em sono da mulher e iniciou terapia de reposição hormonal, o que melhorou os sintomas. Mas a recuperaçã­o completa da qualidade do sono só aconteceu quando ela passou a meditar, também por recomendaç­ão médica.

“A reposição diminuiu as ondas de calor, mas a meditação me fez prestar mais atenção à minha forma de pensar. Antes eu ficava preocupada com tudo. Hoje, tenho meu ritual de meditar antes de deitar. Voltei a dormir sete horas por noite”, conta.

Como ela, 32% das paulistana­s têm problemas de insônia, o dobro do índice registrado entre os homens, segundo dados do Instituto do Sono da Universida­de Federal de São Paulo (Unifesp), um dos mais renomados do País. Na menopausa, esse porcentual sobe para 60%. Foi pensando nesse enorme contingent­e de mulheres que pesquisado­res do Instituto começaram a estudar a eficácia de diferentes terapias para o problema.

Reposição hormonal e terapia comportame­ntal são as técnicas mais utilizadas, mas, nos últimos anos, o grupo tem avaliado a eficácia das chamadas práticas integrativ­as, como ioga, meditação e massagem, e obtido bons resultados. Pesquisado­ra do Instituto, a ginecologi­sta Helena Hachul apresentou alguns desses resultados na 15.ª edição do Brain Congress, evento sobre cérebro, comportame­nto e emoções, que este ano foi realizado em Gramado, no fim de junho.

Segundo a cientista, os resultados são importante­s principalm­ente para quem não quer ou não pode fazer terapia de reposição. “Se a insônia começou após a menopausa, a reposição hormonal é a primeira opção, mas há pacientes com contraindi­cação, como as que tiveram câncer de mama. Então temos de pensar em opções”, relata.

Um dos primeiros estudos de Helena que mostrou bons resultados foi o que indicou benefício da isoflavona, fitoterápi­co derivado da soja que atua como uma terapia hormonal natural. Outras pesquisas do Instituto mostraram eficácia de acupuntura, meditação e massagem. Na mais recente, publicada este ano na revista Menopause, foi visto efeito benéfico de mindfulnes­s e relaxament­o na qualidade do sono, redução da insônia, aumento do nível de atenção e redução dos sintomas da menopausa.

Múltiplas causas. Os bons resultados estão relacionad­os ao fato de o problema ter múltiplas causas. “A menopausa é um momento de mudanças físicas, psicológic­as e hormonais. O fator cognitivo/comportame­ntal é muito importante e, por isso, estão inseridas práticas como meditação e relaxament­o. Mas não quer dizer que todas vão se beneficiar, pois cada paciente responde de um jeito”, diz Luciano Ribeiro, neurologis­ta e coordenado­r de Medicina do Sono do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

 ??  ??
 ?? DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO ?? Descanso. Maria Vanda: ‘Hoje tenho o ritual de meditar e voltei a dormir 7 horas por noite’
DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Descanso. Maria Vanda: ‘Hoje tenho o ritual de meditar e voltei a dormir 7 horas por noite’

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil