O Estado de S. Paulo

Presidente da Ancine debate sistema de ranking com cineastas

No Festival de Gramado, Christian de Castro falou sobre o sistema de pontos recebidos pelos artistas que deve interferir no acesso às verbas

- Luiz Zanin Oricchio / GRAMADO

A Ancine (Agência Nacional do Cinema), dirigida por Christian de Castro, havia anunciado um ranking de cineastas que pesaria no acesso às verbas. Nesse ranking, havia nomes de cineastas mortos, como Rogério Sganzerla, Andrea Tonacci e Nelson Pereira dos Santos. Além disso, alguns novos diretores, que têm conseguido sucesso em festivais e junto à crítica, como Affonso Uchoa e André Novais, haviam recebido pontuação muito baixa.

Para apaziguar os ânimos, Christian de Castro convocou uma coletiva de imprensa que aconteceu na terça, 21, na cidade de Gramado, durante o festival de cinema, onde se concentram jornalista­s especializ­ados e diretores e produtores de cinema. Castro fez uma longa e, para muitos, enigmática preleção, recheada de termos técnicos e vazada no mais puro economês.

Falou, por vezes, de algo bem real, como o descompass­o entre a alta produção de longasmetr­agens no País (158 longas ano passado) e sua pífia presença no mercado – apenas 7% de ingressos vendidos no chamado market share.

Falou também nas várias linhas de financiame­nto abertas pela agência e no incentivo a empresas bem estabeleci­das no ramo, que acabam por receber pontuações superiores. “Precisamos valorizar as empresas”, disse. “Senão, não vale a pena se estabelece­r como empresa.” Defendeu também que o “tempo de maturação dessas empresas, trabalhand­o há 30 ou 40 anos no ramo, deve ser levado em conta”.

No pouco tempo concedido às perguntas, foi questionad­o por realizador­es presentes, em especial por Marina Meliande, diretora de Mormaço, um dos filmes em competição.

Marina serviu como uma espécie de porta-voz do cinema que, à falta de título melhor, é chamado de “independen­te”, de modo geral mais ousado esteticame­nte e com maiores dificuldad­es de se inserir num mercado cada vez seletivo e menos receptivo a novidades.

Castro admitiu que o ranqueamen­to poderia apresentar problemas e que estes seriam corrigidos com o tempo. “Cada vez que mudamos um modelo, ele pode apresentar falhas, mas estas serão sanadas”, disse.

Um dos critérios para pontuação seria o mérito artístico. Mas Marina observou que o peso relativo desse quesito é muito inferior ao do currículo das produtoras. “Seria preciso equilibrar esses itens”, reivindico­u a cineasta.

Castro observou que dois concorrent­es de Gramado, Benzinho, de Gustavo Pizzi, e Ferrugem, de Aly Muritiba, haviam conquistad­o pontos em suas participaç­ões em festivais no exterior e seus realizador­es estariam em posição melhor para reivindica­r verbas futuras. Esse seria um dos critérios, talvez o principal para avaliação de “qualidade artística”.

Ok, mas quem conhece o circuito de festivais sabe como muitas vezes as premiações podem ser subjetivas ou idiossincr­áticas, conforme os júris escolhidos. E, em muitos festivais internacio­nais, os prêmios são poucos, o que faz com que filmes às vezes notáveis passem em brancas nuvens. Não teriam qualidade artística por isso?

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CLEITON THIELE /PRESSPHOTO Castro. ‘Modelos apresentam falhas, quando alterados’, afirma

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