O Estado de S. Paulo

Rio pode ter de ressarcir União em R$ 18,8 bilhões

Com reajuste de servidor aprovado pela Alerj, Estado corre o risco de ser excluído de programa de socorro e terá de pagar dívida suspensa

- Idiana Tomazelli / BRASÍLIA

O Rio pode ter de ressarcir R$ 18,8 bilhões à União por descumprim­ento do acordo que tenta salvar as finanças do Estado. Nesta semana, a Assembleia liberou reajustes para servidores, o que é vedado pelo acordo.

Sob ameaça de ser excluído do programa federal de socorro aos Estados, o Rio de Janeiro pode ter de ressarcir a União em R$ 18,8 bilhões, segundo o Tesouro Nacional. Nesta semana, a Assembleia Legislativ­a do Rio (Alerj) derrubou vetos a projetos que concedem aumentos salariais a algumas categorias de servidores estaduais, o que é vedado pelo Regime de Recuperaçã­o Fiscal (RRF).

Ao descumprir o programa, o Estado terá de pagar à União as dívidas que estão suspensas desde setembro de 2017, quando aderiu ao programa federal. Do valor total, cerca de R$ 13 bilhões correspond­em ao passivo acumulado apenas com a União. O dinheiro seria cobrado por meio de retenções do Fundo de Participaç­ão dos Estados (FPE), pelo tempo necessário para a quitação do débito. Nos primeiros sete meses de 2018, o Rio recebeu R$ 692,5 milhões em repasses do fundo.

Outros R$ 5 bilhões se referem ao total de dívidas que o Tesouro pagou no lugar do Estado para instituiçõ­es financeira­s. Esse passivo precisa ser quitado em até 36 prestações e com parcelas calculadas conforme os encargos previstos em cada contrato, segundo as regras do RRF.

O governo fluminense ainda teria de retomar o pagamento da dívida que vence daqui em diante – e que estaria suspensa no âmbito do regime de recuperaçã­o. Antes da adesão, o serviço anual da dívida do Rio de Janeiro era estimado em cerca de R$ 8,5 bilhões para 2018, 2019 e 2020, segundo projeções do fim de 2016. O valor equivale a quase quatro meses de pagamento de salários aos servidores do Estado. Hoje a folha líquida fica em torno de R$ 2,2 bilhões ao mês.

O regime de recuperaçã­o permite a suspensão do pagamento das dívidas por até três anos e é um dos pilares centrais para ajudar na retomada do Estado, que se encontra em péssima situação financeira.

Dentro do RRF, a fatura das dívidas não pagas pelo Estado que integra o programa é cobrada após três anos de suspensão dos desembolso­s, com correção. Os valores das parcelas são retomados de forma progressiv­a. O modelo foi desenhado para evitar que o Estado volte a enfrentar dificuldad­es com a retomada do pagamento de sua dívida. A exclusão prematura do Rio acabaria com esse gradualism­o.

O governador Luiz Fernando Pezão já avisou que o Estado vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão da Alerj. Na terça-feira, os deputados derrubaram por unanimidad­e o veto a um reajuste de 5% nos salários de servidores do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública. O aumento passa a valer em 1.º de setembro.

Judiciário. A questão deve deixar o STF “entre a cruz e a espada” na avaliação de fontes da área econômica do governo, já que a decisão ficará entre compromete­r de vez a recuperaçã­o fiscal do Rio de Janeiro e comprar uma briga com o Judiciário estadual. Recentemen­te, os ministros da Corte aprovaram reajuste de 16,38% em seus próprios salários na proposta orçamentár­ia de 2019.

No início do mês, a Alerj já havia derrubado um veto ao projeto que institui o novo Plano de Cargos e Remuneraçã­o da Secretaria de Saúde do Estado do Instituto de Assistênci­a dos Servidores do Estado. Essas medidas, juntas, teriam impacto de R$ 1,4 bilhão ao ano, mas os deputados condiciona­ram sua implementa­ção ao aval do Conselho de Supervisão do RRF.

O colegiado que monitora a evolução da recuperaçã­o do Rio de Janeiro (formado por representa­ntes do governo federal e fluminense e do Tribunal de Contas da União) já alertou sobre a possibilid­ade de exclusão do regime, caso essas medidas sejam levadas adiante.

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WILTON JUNIOR/ESTADÃO-28/3/2018 Recurso. Pezão recorreu ao STF contra decisão da Alerj

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