O Estado de S. Paulo

Dólar vai a R$ 4,12 com tensão externa e incerteza eleitoral

Cotação é a terceira maior desde o início do Plano Real; silêncio do BC depois do sétimo pregão consecutiv­o de valorizaçã­o preocupa analistas

- / PAULA DIAS, VICTOR REZENDE E NICHOLAS SHORES

A moeda americana fechou o dia cotada a R$ 4,12, puxada pela cautela com o cenário eleitoral e pelo impacto da disputa comercial entre China e Estados Unidos. Foi o sétimo dia consecutiv­o de alta na cotação.

A cautela com o cenário eleitoral e o impacto da guerra comercial entre Estados Unidos e China levaram o dólar a atingir ontem a terceira maior cotação nominal desde a criação do Plano Real, em 1994. A moeda americana teve alta de 1,45%, cotada a R$ 4,12. Foi o sétimo pregão seguido de valorizaçã­o do dólar frente ao real, acumulando alta de 6,69%, e o terceiro dia seguido em que a moeda se manteve acima dos R$ 4.

A cotação de ontem é a maior desde 21 de janeiro de 2016. Naquele dia, a moeda havia fechado aos R$ 4,17, refletindo a decisão inesperada do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic em 14,25%, quando o mercado se posicionav­a para uma alta de 0,25 ponto porcentual. Em 23 de setembro de 2015, o valor também superou o de ontem, quando fechou em R$ 4,13.

O silêncio do BC diante da escalada do dólar foi considerad­o por analistas como fator de incerteza para o mercado. Para os profission­ais, a falta de sinalizaçã­o da autoridade monetária deixa em aberto qual seria o “teto” da moeda. “A maior parte do nervosismo veio do exterior, mas o fato de o BC não se pronunciar leva o dólar a subir novos degraus. O mercado não está conseguind­o enxergar até onde a cotação chegará”, disse José Carlos Amado, operador da Spinelli Corretora.

A opinião é compartilh­ada por Hideaki Iha, da Fair Corretora. Ele ressalta a influência do cenário internacio­nal, num dia de alta generaliza­da do dólar e queda das commoditie­s, além da expectativ­a com discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, hoje. “O dólar voltou a subir no mercado externo, após dois dias de queda que não foram acompanhad­os por aqui. O fato é que o humor com o cenário eleitoral não está nada bom. Se o BC não entra de alguma maneira, a tendência é a cotação seguir em alta.”

A disparada do dólar foi assunto na reunião trimestral dos diretores do BC com analistas, ontem, em São Paulo. Segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, não houve consenso entre os participan­tes da reunião sobre algum tipo de intervençã­o do BC no mercado cambial.

Um dos pontos de tensão no exterior foi o início da vigência de novas tarifas dos EUA contra a China, ao mesmo tempo em que o país asiático acenou com retaliação e anúncio de ingresso de ação na Organizaçã­o Mundial de Comércio. Temores de elevação de juros nos EUA e ruídos na Itália influencia­ram a aversão ao risco no mercado externo. O índice DXY, que mede o dólar contra uma cesta de outras seis moedas fortes, encerrou o dia em alta de 0,55%.

Bolsa. O Ibovespa caiu 1,65%, encerrando o pregão aos 75.633 pontos. As quedas mais expressiva­s foram vistas no bloco financeiro: as ações de Itaú Unibanco PN perderam 3,89%, seguidas pelas Units do Santander (-3,50%). Os papéis da Petrobrás recuaram 1,36% (ON) e 2,23% (PN).

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ALEX SILVA/ESTADÃO - 21/9/2015 Pico. Em setembro de 2015, com tensão no governo Dilma Rousseff, e em janeiro de 2016 dólar teve as maiores cotações

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