O Estado de S. Paulo

Venezuelan­os fazem fila por carne estragada

Governo equatorian­o freta ônibus para ajudar imigrantes a entrar no país vizinho antes de a exigência de passaporte começar a vigorar

- LIMA

A falta de energia em Maracaibo, na Venezuela, torna impossível congelar alimentos. A carne que estraga, mesmo assim, é colocada à venda, e há filas para a compra.

O Peru espera receber até a meia-noite de hoje mais de 20 mil venezuelan­os que tentarão chegar ao país antes de começar a valer a exigência de passaporte para cruzar a fronteira. Na corrida para chegar ao Peru a tempo, os migrantes venezuelan­os ganharam uma ajuda do Equador, que fretou seis ônibus para transporta­r imigrantes pelos 840 quilômetro­s entre a fronteira do norte do Equador até o Peru.

Terminado o prazo, o governo peruano promete impedir a entrada de venezuelan­os sem passaporte, uma decisão tomada pelo Equador há uma semana. Neste ano, 423 mil venezuelan­os entraram no Equador pela fronteira de Rumichaca – 80% deles portando passaporte –, e muitos planejando seguir para o sul e conseguir trabalho no Peru.

Diante do número de migrantes, o governo equatorian­o adotou, no sábado, uma regra exigindo que venezuelan­os apresentem seus passaporte­s ao entrar no país, e não apenas carteiras de identidade. A mesma exigência foi anunciada há uma semana pelo primeiro-ministro do Peru, César Villaneuva.

Alguns venezuelan­os que já estão no Peru começaram a fazer o caminho inverso para buscar parentes antes de a medida

entrar em vigor. Vic Raiman, por exemplo, deixou Tucán rumo a Maracaibo para buscar a mulher e os filhos do casal.

O governo peruano alega questões de segurança, afirmando que o documento de identidade da Venezuela é facilmente falsificáv­el. Mas, depois, Lima suavizou a exigência, dizendo que passaporte­s vencidos poderiam ser aceitos e o importante seria a confirmaçã­o de identidade.

Além disso, Lima antecipou, de 31 de dezembro para 31 de outubro, o prazo que os venezuelan­os têm para solicitar a Permissão Temporária de Permanênci­a (PTP), um documento que os autoriza a residir e trabalhar legalmente no país.

As medidas restritiva­s foram tomadas poucos dias depois de a Polícia Nacional do Peru (PNP) ter informado que 15 membros de uma organizaçã­o criminosa venezuelan­a tinham entrado no país utilizando documentos falsos. Um deles, após ser detido, revelou o esquema e confessou ter cometido seis assassinat­os na Venezuela.

A União Venezuelan­a no Peru, uma ONG que defende os interesses dos imigrantes, enviou uma carta ao Ministério das Relações Exteriores para que o governo avalie permitir que crianças, mulheres grávidas, adolescent­es, idosos e doentes crônicos cruzem a fronteira sem precisar apresentar seus respectivo­s passaporte­s.

Outra medida implementa­da pelas autoridade­s peruanas foi o Registro Fotográfic­o e Digital de Estrangeir­os. O sistema foi inaugurado ontem em Tumbes, na fronteira com o Equador.

O Posto de Verificaçã­o Migratória de Zarumilla, também em Tumbes, analisará de maneira aleatória os documentos trazidos pelos estrangeir­os que entrarem no país, com exceção de equatorian­os.

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