O Estado de S. Paulo

Febre amarela migrou do Norte para o Sudeste

- Giovana Girardi

Os dois surtos recentes de febre amarela no País, com pouco mais de 2 mil casos confirmado­s e 850 mortes de julho de 2016 a junho deste ano, foram os maiores do Brasil em cem anos e levantaram a suspeita de que poderia ter voltado a ocorrer a transmissã­o urbana da doença. Mas uma ampla pesquisa que investigou, do ponto de vista genético e epidemioló­gico, as origens do surto bate o martelo: o que vimos ainda é a febre amarela silvestre.

O trabalho publicado esta semana na revista Science revela que o surto emergiu em macacos em Minas no fim de julho de 2016, com vírus que migraram do Norte ou do Centro-Oeste para o Sudeste. Os pesquisado­res estimam que eles chegaram possivelme­nte com a ajuda de atividades humanas, como transporte de mosquito em carros e tráfico ilegal de macacos.

A pesquisa, liderada pela Universida­de de Oxford (Inglaterra) e pela Fiocruz, aponta que uma linhagem do vírus se espalhou no ciclo silvestre entre primatas não humanos sem ser percebida em 2016, saltando para humanos no início de 2017.

Com análises genéticas, epidemioló­gicas e espaciais, foi observado que a partir do momento em que as ocorrência­s foram identifica­das em macacos, os casos humanos apareciam cerca de quatro dias depois, o que corrobora a noção de que esses animais são mesmo sentinelas da febre amarela. O trabalho traz o sequenciam­ento de 62 genomas do vírus que circulou no primeiro surto da doença.

“Os surtos trouxeram vários aprendizad­os, reforçados pelo estudo. O primeiro é sobre a importânci­a de se manter vigilância constante sobre a expansão do vírus entre macacos. Fazer o diagnóstic­o rápido e seguir os avanços o mais rápido possível é o que vai permitir perceber quais são as áreas onde tem de se ampliar a vacinação”, afirma o pesquisado­r Renato Souza, do Instituto Adolfo Lutz, um dos autores do trabalho

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