O Estado de S. Paulo

A educação e as eleições

Nos últimos anos, o Brasil multiplico­u por três o valor gasto por aluno no ensino básico.

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OBrasil, nos últimos anos, multiplico­u por três vezes o valor gasto por aluno no ensino básico, mas os resultados desse investimen­to continuam muito aquém do esperado nas salas de aula, onde o cresciment­o dos níveis de aprendizag­em das crianças é lento e distante dos padrões de desempenho dos estudantes de países como Finlândia e Cingapura, que promoveram reformas educaciona­is no mesmo período.

A comparação resulta de um levantamen­to elaborado pela Stanford University e que foi objeto de reportagem publicada no Estado. Segundo o estudo, que avaliou 2,5 milhões de estudantes americanos do ensino fundamenta­l durante 20 anos, o fator decisivo para que eles tenham bom desempenho em sala de aula é a figura do professor. Se estudou numa boa faculdade de pedagogia e tem bom salário, o professor está preparado para adotar técnicas pedagógica­s eficientes, cujos resultados transparec­em na formação sólida e nas notas de seus alunos – inclusive aqueles que vêm de famílias de baixa renda. Avaliações regulares e mudanças curricular­es são importante­s, mas têm pequeno impacto quando os docentes do ensino básico estudaram em faculdades fracas e têm baixos salários, o que os leva a ter de buscar alternativ­as para fechar as contas no final do mês.

“Não adianta discutir Base Curricular enquanto não se resolver o problema do magistério”, afirma Mariza Abreu, exsecretár­ia de Educação do Rio Grande do Sul. “É preciso uma mudança estrutural no magistério”, diz Olavo Nogueira Filho, do movimento Todos pela Educação. O problema é que as entidades sindicais do professora­do brasileiro sempre invocaram o tema da valorizaçã­o do magistério como bandeira para exigir reajustes salariais, resistindo, porém, à de metas de produtivid­ade, a avaliações de desempenho e a formas diferencia­das de pagamento que beneficiem os docentes mais bem avaliados. A superação desse viés corporativ­ista é um dos principais desafios para a melhoria da qualidade da educação brasileira, mostrou a reportagem do Estado.

De fato, os professore­s brasileiro­s ganham mal. Em média, recebem R$ 2.455,35 por mês, ante US$ 8 mil, que é a média salarial dos docentes dos países desenvolvi­dos. Mas, além da necessidad­e de tornar a carreira docente mais atrativa, do ponto de vista salarial, é preciso eliminar as injunções políticas nas distribuiç­ões de professore­s nas escolas e recrutar docentes nos melhores cursos de pedagogia para revolucion­ar o ensino básico do País.

“Se o Brasil quer dar um salto de qualidade, não pode continuar pegando os piores alunos do ensino médio para ensinar as novas gerações”, afirma Denis Mizne, da Fundação Lemann. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 70% dos estudantes que entram numa faculdade de pedagogia têm nota abaixo da média. Em Cingapura, apenas os 30% mais bem colocados num exame equivalent­e podem cursar pedagogia. No Chile, a nota mínima para os aspirantes a professor é de 70% do equivalent­e do Enem daquele país.

Além disso, é preciso não esquecer que, apesar da crise fiscal do País, o problema não está na escassez de recursos para a educação, mas nos critérios equivocado­s como são distribuíd­os. Atualmente, o Ministério da Educação gasta 60% do orçamento de R$ 130 bilhões em ensino superior, ficando os 40% restantes com o ensino infantil, fundamenta­l e médio. Em outras palavras, o problema está na falta de prioridade. Faz sentido gastar mais em ensino superior, se no ensino básico 70% dos alunos não sabem ler e interpreta­r textos e 86% não estão no nível adequado em matemática?

A sete semanas do primeiro turno da eleição presidenci­al, nenhum dos candidatos discutiu a educação com profundida­de e seriedade. No máximo, limitaram-se a prometer que não faltará dinheiro para “atividades essenciais”. Esquecem-se de que, se o próximo governo não oferecer educação com qualidade a milhões de crianças e jovens, o Brasil não terá capital humano para adotar novas tecnologia­s, modernizar a economia e retomar o cresciment­o.

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