Cresce a pressão contra Trump
Aterça-feira passada foi um péssimo dia para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Dois de seus mais próximos colaboradores durante a campanha eleitoral de 2016 sofreram duros reveses na Justiça americana, tão sérios que alguns analistas já não descartam a possibilidade de Trump enfrentar um processo de impeachment.
Perante uma corte federal em Nova York, o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, declarou-se culpado por nada menos do que oito crimes, incluindo a violação da lei eleitoral norte-americana e múltiplos casos de evasão fiscal e fraude bancária. Michael Cohen, que pode ser condenado a penas que, somadas, podem chegar a 65 anos de prisão – sua sentença será anunciada no dia 12 de dezembro –, fez um acordo de colaboração premiada com a Justiça, ainda que o “prêmio” não tenha sido acertado entre ele e a equipe de Robert Mueller, procurador responsável por investigar as condutas do presidente americano.
Segundo noticiou o jornal The Washington Post, Michael Cohen disse à Justiça que os crimes pelos quais se declarou culpado foram cometidos “em coordenação com e sob a direção de” Donald Trump. Entre estes crimes, estaria o pagamento de suborno, com dinheiro do caixa de campanha, para comprar o silêncio de duas mulheres com as quais o presidente Trump manteve relacionamentos extraconjugais. Embora admita o pagamento, Donald Trump argumenta, em sua defesa, que sua campanha foi bancada com seus próprios recursos e podia fazer o que quisesse com aquele dinheiro. É pouco provável que a Justiça aceite este argumento. Prestação de contas de campanha é algo que se leva muito a sério nos Estados Unidos.
Horas depois da audiência de Cohen, Paul Manafort, exgerente da campanha de Trump à presidência, foi condenado em uma corte de Alexandria, no Estado da Virgínia, por cinco acusações de fraude fiscal, duas de fraude bancária e uma de omissão de declaração de contas bancárias no exterior. Manafort tem pela frente outro julgamento criminal no mês que vem, em Washington, por outras denúncias oferecidas por Robert Mueller, incluindo obstrução de justiça, falha em se registrar como agente estrangeiro e conspiração para lavagem de dinheiro.
O fato de as investigações, sobretudo as que envolvem Paul Manafort, chegarem a dois dos principais assessores de Trump eleva o grau de tensão na Casa Branca. Para a equipe do procurador Mueller, o ex-gerente de campanha de Donald Trump tem papel decisivo na elucidação das investigações sobre a suposta influência da Rússia no resultado da eleição presidencial de 2016. Sobre Paul Manafort paira a suspeita de ter facilitado o contato entre o presidente dos EUA e os russos desde os tempos em que era um dos lobistas mais conhecidos em Washington.
Evidentemente, não é impossível que Donald Trump enfrente um processo de impeachment, mas é improvável, a menos que a suposta interferência da Rússia na eleição que o levou à Casa Branca fique cabalmente comprovada. Isto, sim, tem potencial para encerrar seu mandato antes do tempo. Embora seja bastante grave, a acusação de pagamento de suborno às mulheres com as quais Trump, confessadamente, manteve relacionamentos extraconjugais não tem força suficiente para instruir um processo de impeachment.
Convém lembrar que Bill Clinton mentiu à Justiça e foi julgado pelo Senado, mas não foi impedido após o escândalo de seu relacionamento com uma ex-estagiária da Casa Branca. Pelo crime de perjúrio, Clinton foi condenado ao pagamento de multa e foi impedido de advogar. Mas não perdeu a presidência. Em boa medida, os ventos favoráveis de uma economia robusta favoreceram Clinton. Dado como invencível nas eleições de 1992 após o triunfo na Guerra do Golfo, George H. W. Bush perdeu para o desconhecido Clinton pela economia em recessão. “É a economia, estúpido”, frase de James Carville, marqueteiro de Clinton, entrou para a história. E é a economia que agora pode segurar Donald Trump no cargo até 2020. A ver.