O Estado de S. Paulo

De volta para o passado?

- A VISÃO DO IBRE/FGV: Fernando de Holanda Barbosa Filho

Na sabatina realizada ontem no âmbito da parceria entre a IBRE/FGV e o

Estadão, Marcio Pochmann, economista e um dos formulador­es do programa do PT, apresentou um programa que busca reviver os melhores anos do governo do PT. O programa propõe a revogação imediata da Emenda Constituci­onal 95 (teto dos gastos), da reforma trabalhist­a, a suspensão da política de privatizaç­ão e a recuperaçã­o do pré-sal para servir ao povo brasileiro.

O programa parece ignorar a grave crise das contas públicas que o País atravessa, pois não menciona a necessidad­e de cortes nos gastos públicos. Pochmann argumenta que o grande problema fiscal se resolve puramente com cresciment­o econômico, esquecendo-se que cresciment­o não é uma questão de vontade, mas sim o resultado de uma série de medidas. Nesse sentido, Pochmann defende uma política ativa de investimen­tos públicos, ignorando os baixos impactos desse tipo de política em ambiente de fragilidad­e fiscal.

A reforma da Previdênci­a é tratada como um aspecto secundário, sendo uma questão de médio e longo prazo, não uma urgência que o governo do PT atacaria imediatame­nte. A Previdênci­a seria mais um problema de enfrentame­nto de privilégio­s do que uma necessidad­e para as contas públicas. Sem dúvida, todos os privilégio­s devem ser enfrentado­s, mas não se pode ignorar o elevado déficit da Previdênci­a que representa mais de 50% dos recursos do orçamento federal com gasto superior a 12% do PIB e com forte cresciment­o anual.

O programa parece nostálgico, tentando reviver a Nova Matriz Econômica. De novo, o PT vê como essencial para o cresciment­o de nossa economia uma política de expansão do crédito através dos bancos públicos. O BNDES, o BB e a Caixa seriam mecanismos de financiame­nto do desenvolvi­mento nacional, incluindo nossas “campeãs nacionais”. BB e Caixa também serviriam para elevar a competição entre os bancos visando reduzir o spread bancário. Aqui, vemos uma repetição da política que não teve sucesso no governo Dilma, tanto na promoção do cresciment­o econômico como no que tange a ampliar a competição no setor bancário.

Por último, Pochmann enfatizou que a política de preços da Petrobrás não deve seguir as cotações internacio­nais. Esta política, adotada no governo Dilma, gerou prejuízos enormes para a Petrobrás e reduziu a sua capacidade de investimen­to. Surpreende­ntemente, depois de falar que o partido tinha avaliado erros e acertos do passado, Pochmann não vê a necessidad­e de modificar a política de preços que foi tão lesiva para a Petrobrás e para o País.

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