O Estado de S. Paulo

Violência

Crimes na região da Granja Viana assustam moradores.

- Priscila Mengue COLABOROU ANA PAULA NIEDERAUER

Era pouco mais de 18 horas, de domingo quando o advogado Rodrigo Ferreira Gama, de 35 anos, saiu do Shopping Granja Vianna para ir a um culto evangélico em Osasco. Ele estava acompanhad­o da mulher, a psicóloga Vanessa Queiroz, de 30 anos, com quem seguiu até a Rua Adib Auada para buscar o carro. No local, foram assaltados por um homem armado, que levou dois celulares iPhone, cartões e documentos.

Quando a situação parecia estar normalizad­a, o casal entrou no automóvel. Nesse momento, o veículo se aproximou da motociclet­a do assaltante, possivelme­nte sem tê-la visto, e foi alvejado por um dos dois ocupantes. O tiro acertou Gama no peito, que, mesmo com atendiment­o médico, morreu. Até a tarde de ontem, nenhum suspeito havia sido preso.

O caso ocorreu na Granja Viana, bairro de classes média e alta de Cotia, na região oeste da Grande São Paulo. Para parte dos moradores e frequentad­ores da região, foi o estopim para uma série de reclamaçõe­s sobre inseguranç­a. Nas redes sociais e por WhatsApp, os moradores compartilh­am vídeos de supostos crimes na região. Além disso, promovem um abaixo-assinado (que reuniu 10,6 mil assinatura em quatro dias) e manifestaç­ões para esta semana e para setembro.

Os casos se concentram há cerca de dois meses no entorno do shopping, segundo o delegado Marcos Alexandre Cattani, titular do 2.º Distrito Policial (Granja Viana). “Mas não são muitos, no máximo cinco”, afirma. Mas admite a possibilid­ade de subnotific­ação. “Enquanto não é feito (boletim), o crime não existe”, alega.

Cattani afirma que os crimes são “cíclicos”. Antes da atual onda, a anterior foi meses atrás, no entorno de um centro comercial, que teve lojas assaltadas oito vezes. Três integrante­s da quadrilha foram presos.

Os dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado apontam que roubos e furtos diminuíram neste ano na área do 2º DP. No primeiro semestre de 2018, houve 229 boletins de ocorrência roubos, número 23,9% menor do que no mesmo período de 2017 (301). A quantidade é, contudo, 76,1% superior à registrada há dez anos, quando foram 130 casos. Segundo Cattani, a região é alvo pelo “poder aquisitivo” dos frequentad­ores e também pela proximidad­e da Rodovia Raposo Tavares, o que facilitari­a a fuga.

O delegado aponta que, enquanto a situação não se normaliza, o recomendad­o é não estacionar nas ruas do entorno do shopping e procurar uma opção particular. “A vítima também é responsáve­l pela sua segurança. A população precisa estar consciente. No momento em que estaciona o carro na rua, está expondo seu patrimônio.”

Medo. Uma das vítimas recentes é uma a gerente de loja que preferiu não se identifica­r. Ela trafegava pela Rua Monet, quando foi abordada por quatro motociclis­tas. Um deles mandou a vítima ir para o banco traseiro, onde permaneceu de cabeça baixa e ajoelhada. Durante mais de duas horas, eles compraram produtos com cartões da vítima, que somaram R$ 7 mil. “Falaram que meu carro (branco) chamou a atenção, assim como ser uma mulher dirigindo sozinha. Foi traumático”, contou ao Estado.

A jornalista Cléo Alves, de 31 anos, decidiu parar de frequentar a região nesta semana. “Os casos foram no shopping que a gente frequenta, na rua que a gente tem costume de passar, pessoas já foram abordadas na farmácia que a gente tem costume de ir”, explica.

A dona de casa Claudia Matuoka, de 50 anos, agora vai para a Granja Viana somente acompanhad­a e durante o dia. “Tenho medo até no estacionam­ento”, afirma.

Moradora da Granja Viana, Catia Alexandre Bezerra Nabais, de 38 anos, diz sair de casa somente “em caso de necessidad­e extrema”. Há cerca de dois anos, ela viu o próprio automóvel ser arrombado na região.

Reforço. A Polícia Civil, a Polícia Militar e a Guarda Civil de Cotia programam operações para abordar possíveis suspeitos, a partir de hoje. O número de viaturas que rondam o distrito aumentou de seis para nove, de acordo com a Prefeitura. Além disso, para setembro, está prevista a instalação de 12 totens com câmeras de segurança e sistema de comunicaçã­o para a polícia ser chamada diretament­e ao local do crime.

Por meio de nota, o Shopping Granja Vianna nega aumento de crimes na região e diz manter “forte política de segurança”. “O shopping tem conhecimen­to dos problemas de segurança pública, lamenta o que aconteceu no último domingo e está colaborand­o”. De acordo com o estabeleci­mento, há conversas com o poder público para melhoria da segurança. /

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